No capitalismo brasileiro “sem risco”, no neoliberalismo de “Estado mínimo para o povo e máximo para os ricos”, os grandes empresários (médios também) e latifundiários, em situações de catástrofes (cheias e alagamentos, estiagens prolongadas) ou sanções econômicas externas (“tarifaço” ianque), exigem ajuda do governo federal.
Entendo, que, num contexto em que a “grande mídia” está ao lado dos predadores econômicos e de ameaças e chantagens de desemprego, o governo se obrigue a “planos de ajuda”. Mas não entendo a não exigência de contrapartidas.

No Rio Grande do Sul, o agronegócio e outros empresários (setor imobiliário, indústria) são os principais responsáveis pela devastação ambiental (degradação de banhados, cursos d’água, campos e matas), uma das causas das mudanças climáticas e dos processos de erosão e assoreamento dos arroios e rios, que somam para os extravasamentos e alagamentos.
Nas situações das cheias e alagamentos que afetaram o estado, defendi que as ajudas federais deveriam ser acompanhadas de contrapartidas por parte dos devastadores beneficiados, como a recuperação de nossas proteções naturais, notadamente das matas ciliares. Mas não foi o que ocorreu.

Agora, no tarifaço ianque, o governo federal anuncia planos de contingência aos empresários exportadores. Novamente defendo que nos planos deve haver condicionantes, que viabilizem produtos, principalmente alimentos, mais baratos para o mercado interno. Estes produtos podem ser direcionados para cozinhas solidárias, cestas básicas, merenda escolar, povos indígenas e quilombolas e população pobre.
Diante de indicativos em entrevistas destes empresários de que a produção pode (talvez prefiram, para não baixar preços) apodrecer, é urgente que parlamentares e dirigentes partidários comprometidos com o povo e os movimentos sociais, atuem junto ao governo Lula para que contrapartidas de abastecimento do mercado interno com produtos a preços baixos sejam exigidas.
*Nandi Barrios é engenheiro florestal, com trabalhos em comunidades quilombolas e indígenas.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
