O movimento sindical gaúcho realizou, na manhã desta segunda-feira (4), uma plenária unificada para defender duas bandeiras históricas da classe trabalhadora: a redução da jornada de trabalho sem redução salarial e o fim da escala 6×1. O encontro reuniu todas as centrais sindicais do estado, economistas, juristas, parlamentares e lideranças políticas na sede da Associação dos Auditores-Fiscais da Receita Municipal de Porto Alegre (Aiamu), em Porto Alegre.
Proposta pela deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS) e pelo senador Paulo Paim (PT-RS), a atividade reforçou a urgência de garantir tempo digno de vida e trabalho para a população. Durante a plenária, o Fórum Estadual das Centrais Sindicais entregou aos parlamentares um documento com reivindicações concretas.
Intitulado “Em defesa da soberania, dos empregos, da atividade econômica e dos direitos trabalhistas”, o texto critica o recente tarifaço imposto pelos Estados Unidos e cobra do governo federal ações concretas para mitigar os impactos. Sugere ações para proteger empregos, fortalecer a indústria e investir em inovação.

No documento, as entidades afirmam que reduzir a jornada de trabalho sem corte de salários e pôr fim à escala 6×1 são ações de justiça social e desenvolvimento sustentável. Defendem que as medidas são essenciais para enfrentar o desemprego, a precarização e o adoecimento da classe trabalhadora, e representam um passo decisivo na redistribuição do tempo de vida e da riqueza no país.
Na ocasião, o presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Amarildo Cenci, destacou que a luta pela redução da jornada está conectada à soberania nacional: “Reduzir a jornada e acabar com a escala 6×1 é garantir tempo de vida, dignidade e resistência contra um modelo que ainda explora e adoece nossa gente.”
O presidente estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), Rodrigo Callais, avaliou que o momento exige união e firmeza. “Estamos diante de um ataque direto aos direitos dos trabalhadores e à soberania nacional. A jornada exaustiva e o arrocho salarial precisam ser enfrentados com mobilização e pressão política.”
“A vida não tem hora extra”

A economista Anelise Manganelli, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), alertou que a reforma trabalhista permitiu retrocessos graves, como o uso abusivo do banco de horas, que anula os efeitos positivos de uma possível redução de jornada. Segundo ela, “a vida não tem hora extra. Um país que avança é aquele que distribui não só renda, mas também tempo de qualidade para o povo viver, cuidar da família e sonhar”.
Representando o governo federal, o assessor especial Lucas Monteiro, da Secretaria de Relações Institucionais, afirmou que a jornada atual imposta à maioria da classe trabalhadora é “análoga à escravidão” e que a redução é uma pauta de justiça civilizatória. Ele destacou que mais de 70% da população brasileira apoia a redução da jornada, mas a demanda ainda encontra resistência no Congresso Nacional.
“Hora de avançar novamente”
Em sua fala, a deputada Daiana Santos lembrou que o direito ao tempo também é uma pauta de diversidade e inclusão: “Estamos falando de negras e negros, LGBTs, mulheres, jovens, pessoas que não têm tempo para estudar, cuidar da saúde ou ver os filhos crescerem. Reduzir a jornada é permitir que esses sonhos não sejam interrompidos.”
O senador Paulo Paim encerrou o encontro reafirmando o caráter histórico da luta por uma jornada justa. “Desde os anos 30, a classe trabalhadora batalha por melhores condições de trabalho. Foi a pressão dos sindicatos que garantiu as 44 horas semanais. Agora, chegou a hora de avançar novamente.”
* Com informações da CUT-RS e CTB/RS