Faltando pouco mais de três meses para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém (PA), os desafios para garantir a presença de delegações e sociedade civil continuam. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o ativista climático Mateus Fernandes alertou para os entraves logísticos que ameaçam a participação popular no evento, especialmente de países em desenvolvimento.
“Estamos a 98 dias da COP30, momento muito importante para pautar não somente a crise climática, mas também a visibilidade do Sul Global, tendo em vista que estamos recebendo esse evento da ONU [Organização das Nações Unidas] na Amazônia”, afirma, nesta segunda-feira (4).
Segundo Fernandes, há uma “crise de logística” evidente, com destaque para a falta de leitos e os altos preços da rede hoteleira. “Hoje, Belém do Pará tem 15 mil leitos, olhando para a rede hoteleira, e estamos com uma expectativa de receber em média 45 mil pessoas ou mais”, lembra. “Enfrentamos não só o combate à desinformação, à crise climática, como também uma crise de logística”, lamenta.
Ele reconhece que há uma movimentação do governo federal para tentar driblar o problema, com medidas como o uso de navios, escolas e espaços públicos para hospedagem. No entanto, destaca que a legislação brasileira impede a imposição de tarifas máximas aos hotéis, o que dificulta o controle dos preços.
COP do povo
Dentre as principais pautas que devem ser levadas à conferência, Fernandes destaca o financiamento climático. “Quem paga essa conta? Não deve ser os países que são mais impactados ou em desenvolvimento”, defende. Ele também chama atenção para a necessidade de adaptação e mitigação da crise, com foco nas populações mais atingidas. “Periferias, quilombos, povos ribeirinhos são os mais impactados”, justifica.
O ativista defende que a COP30 seja uma conferência “construída pelo povo”, mas questiona: “Que povo é esse se nem sequer a gente consegue chegar e ter um espaço para dormir?”
A repercussão internacional também preocupa. Fernandes relata que países africanos têm reivindicado ações concretas para garantir sua presença no Brasil e chegaram a sugerir a mudança de sede da conferência. “Esse debate em relação à mudança da COP30 está sendo dialogado entre países. […] Tanto a presidência quanto o embaixador André [Corrêa do Lago] precisam dar uma resposta para esses países até o dia 11”, indica.
Expectativa alta
Apesar dos obstáculos, ele acredita que há esforços por parte do Ministério do Turismo, do Meio Ambiente e da Presidência da República para manter a realização do evento em Belém. “Essa COP tem uma expectativa muito alta em comparação às COPs anteriores”, fala.
Além das negociações oficiais, Fernandes destaca iniciativas paralelas como mutirões e ações em escolas, como a Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, que propõe a inclusão de atividades socioambientais no cotidiano escolar. “Hoje [é preciso] falar sobre esse tema, tanto nas escolas quanto nas ruas [porque], apesar das pessoas não saberem algumas nomenclaturas, elas já sentem na pele”, aponta.
Para ouvir e assistir
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