A Diocese de Santa Cruz do Sul – encrustada entre as regiões do Vale do Rio Pardo e do Vale do Taquari, portanto uma das mais severamente atingidas durantes as três enchentes registradas nos últimos dois anos – foi escolhida para sediar o Seminário Nacional de Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências da Cáritas Brasileira. A atividade será realizada nesta semana, entre os dias 6 e 8 de agosto, a partir da cidade sede da diocese, mas estendendo-se para territórios atingidos onde serão realizadas trocas e vivências.
Os organizadores informam que “o encontro tem como objetivo fortalecer a atuação da rede diante das emergências climáticas e socioambientais que atingem diretamente as populações mais vulnerabilizadas”. Durante o seminário, serão apresentadas as realidades de Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio e Canoas, cidades que foram duramente atingidas pelas enchentes.
São esperadas aproximadamente 70 pessoas vinculadas à Caritas, aos movimentos sociais populares parceiros e às Pastorais Sociais, vindas de diversas regiões do Brasil e de todo Estado, estarão se aproximando desta realidade e compartilhando suas vivências.

Enchentes adiaram encontro duas vezes
Jacira Ruiz, da Cáritas RS, explica que essa atividade de formação, com abrangência nacional, estava prevista para ser realizada em 2023 em um dos três Estados da Região Sul. Por duas vezes a atividade teve que ser adiada por conta das sucessivas tragédias climáticas ocorridas no RS, primeiramente pelas duas enchentes registradas em setembro e novembro de 2023, depois pela pior de todas, registrada entre abril e maio de 2024.
“Este fato, por si só, já indica a relevância desse momento de aprofundamento sobre os desafios impostos, as resistências vividas pelas pessoas atingidas e como as organizações da sociedade civil podem/devem atuar contribuindo com as comunidades, na construção condições efetivas de maior segurança para enfrentar a nova realidade climática, com maior prevenção e preparação”, aponta Jacira.
Buscar uma sociedade com foco na Casa Comum
“Estamos em um contexto global de emergência climática, que não diz respeito apenas ao aumento da temperatura média, mas de uma série de outros elementos”, aponta Lucas D’Avila, coordenador nacional de Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências da Cáritas Brasileira, citando o Papa Francisco, que afirmava que “a emergência não apenas climática, mas humana em geral”. Para o coordenador a situação atual leva a ampliação dos grupos que já são historicamente marginalizados: “A Cáritas tem uma missão institucional de acolhimento às pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social e dentro deste contexto chama para tematizar e debater esse campo, o seminário vai ser ponte para isso”.
A expectativa prospectada para os quatro dias de encontro é tematizar a emergência climática a partir da rede Cáritas, dentro das suas áreas de atuação, sistematizar e intercambiar experiências, dar passos em um planejamento lançando luzes no que se pode fazer nos próximos anos dentro dessa área. “Vamos sistematizar como é que a Cáritas tem trabalhado nessa área, apontar quais são as boas práticas que quer anunciar, quais as violações que quer denunciar, afirmar alternativas como caminho para uma sociedade cujo foco é a casa comum”, acrescenta Lucas.

COP30 também estará em debate
Dentro da programação também está prevista a mobilização da rede Cáritas, das Pastorais e dos movimentos sociais rumo à COP 30, em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro de 2025. Na ocasião, haverá o lançamento do Documento de Posições da Cáritas Brasileira para a COP 30, que reúne propostas construídas com base nas experiências da rede em todo o país e defende uma transição ecológica justa, popular e democrática.
“A gente quer transformar o nosso seminário também em um espaço para fortalecer as nossas estratégias de mobilização antes, durante e pós COP”, explica Lucas. Para ele o principal desafio posto está em dar condições ao protagonismo das pessoas: “principalmente como é que a gente chega até as bases, fortalece e forma essas bases nesses temas, levando em conta que essa área cria termos e linguagens técnicas, que afastam as pessoas dessas discussões, bem como também há a questão da logística de participação nestes espaços que é sempre complexa”.
Atuação da Cáritas
No Brasil, a atuação da Cáritas inclui ações de prevenção de desastres, atendimento emergencial a indivíduos e famílias afetadas, além da promoção de comunidades mais seguras e resilientes. Por meio de diálogos, comunicação e articulação com as organizações sociais locais, estaduais, nacionais e internacionais e com o poder público, a Cáritas faz a incidência pela defesa e garantia de direitos dos/das afetados/das. Um exemplo é o projeto “Cáritas nas Emergências: comunidades mobilizadas no enfrentamento às mudanças climáticas”, que está sendo realizado em Canoas (área urbana) e Cruzeiro do Sul (área rural), desde dezembro de 2024.
