A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), marcada para ocorrer entre 6 e 10 de agosto em São Paulo, foi impedida de acontecer na Praça das Artes, no centro, por decisão da Fundação Theatro Municipal, ligada à gestão Ricardo Nunes (MDB). A justificativa oficial foi o posicionamento ideológico da feira. “Para o setor conservador do nosso país, é muito fácil rasgar um contrato quando lhe convém”, afirma Rafael Limongelli, responsável pela concepção e organização da Flipei, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo ele, o evento havia sido aprovado em edital público do governo estadual via Lei Aldir Blanc e vinha cumprindo todos os trâmites legais. “Negociações aconteceram desde março […]. Mesmo com todo esse arcabouço legal, na sexta-feira [1°], depois de uma reunião com a Fundação Theatro Municipal e com a Sustenidos, fomos surpreendidos com um ofício do diretor Abraão Mafra cancelando e revogando a sessão de uso do espaço da Praça das Artes”, conta.
Além da retirada do espaço, emendas parlamentares que iriam apoiar a realização da feira também foram cortadas. Ainda assim, o evento será mantido, agora com apoio solidário de espaços culturais da capital. “A Flipei vai manter as suas flotilhas revolucionárias”, afirma Limongelli. A nova programação será distribuída entre o Galpão Elza Soares, o Café Colombiano e a Casa Luiz Gama, localizados na região central, entre Campos Elíseos e Barra Funda. Já as festas noturnas ocorrem no Bar Sol e Sombra, na Rua 13 de Maio, no Bixiga.
Contraponto à Flip
A Flipei, que nasceu como contraponto à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) por abrir espaço a pequenas editoras, recebe este ano 180 expositores de todo o Brasil. “Quando pegamos um livro e colocamos na rua, é muito engraçado que as pessoas que defendem as armas apontam o nosso livro e falam: vocês são perigosos. Mas queria perguntar: algum livro já matou alguém? […] As armas matam, mas os livros libertam”, defende.
A programação é gratuita e 100% acessível, com tradução em libras e equipe dedicada ao atendimento de pessoas com deficiência. Nenhuma taxa é cobrada das editoras participantes. “Quando recebemos o recurso público, nós temos que tornar a coisa pública também”, diz Limongelli.
Para apoiar financeiramente o festival, a organização lançou o “Clube Camarada Flipei”, com recompensas e descontos em editoras parceiras. Mais informações estão no perfil @flipeioficial no Instagram.
Em nota, a Fundação Theatro Municipal alega que suspendeu a realização da Flipei em razão do uso político por parte de seus organizadores. “No lugar de um festival para promover a literatura independente, de grande valia, a feira tinha em sua programação conteúdo exclusivamente de apelo ideológico, com indisfarçável viés eleitoral. Por este motivo, a fundação suspendeu o evento por entender que seus organizadores usariam uma estrutura pública para interesses políticos e eleitorais”, diz o texto.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.