O Salão Nobre da reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA) ficou lotado nesta quarta-feira (6), data que marca o início da taxação de 50% sobre os produtos brasileiros decretada pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Como reação ao chamado “tarifaço”, professores, estudantes, trabalhadores técnico-administrativos, parlamentares, representantes do governo do estado, de órgãos públicos e da sociedade civil se reuniram num ato em defesa da soberania nacional organizado pela reitoria da instituição.
Em unidade, os participantes rechaçaram a postura do líder estadunidense, bem como de seus apoiadores no Brasil, e ressaltaram que a democracia brasileira não irá se curvar diante das ameaças imperialistas e bolsonaristas. “Aos que se acham donos do mundo, nós dizemos: não passarão. Não passarão porque ainda estamos aqui, e daqui não arredaremos o pé. Temos, além da consciência política, um ordenamento jurídico robusto na defesa da soberania”, ressaltou Paulo Miguez, reitor da UFBA.
Miguez também denunciou o genocídio vivido pelo povo da Palestina e destacou que soberania e solidariedade andam juntas. “Um país soberano é um país que sabe ser solidário com os seus e com os outros. Defender a soberania brasileira é também defender a soberania de qualquer povo. Viva a Palestina livre”, saudou o reitor.
Além de Miguez e do vice-reitor, Penildon Silva Filho, estiveram presentes na mesa Osny Guimarães, coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da UFBA; Renato Jorge, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos das Universidades Públicas Federais da Bahia (Assufba); e Raquel Nery, presidenta do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub).
Em defesa do Brasil e dos brasileiros
Quase um mês depois de ser anunciado pelo presidente Donald Trump, entrou em vigor o tarifaço dos Estados Unidos contra as exportações de produtos brasileiros para o mercado estadunidense. A partir desta quarta-feira, empresas dos EUA que comprarem produtos brasileiros irão pagar uma taxa de 50% sobre eles ao governo, com exceção dos 694 tipos de produtos que ficaram de fora da lista definida pela Casa Branca. Para Renato Jorge, da Assufba, a decisão de Trump é mais do que uma questão econômica, é institucional.
“A gente vê de uma forma clara a mudança no mundo, a postura arrogante de um presidente que revelou algo que não é novo, mas que mostra o endurecimento das questões”.
Já Raquel Nery, da Apub, ressaltou diversas conquistas recentes brasileiras, e apontou que o momento grave pelo qual o país passa também é momento de redescoberta do Brasil pelo seu próprio povo.
“Nossa soberania não será plena se não nos apropriarmos adequadamente do que temos e somos, se não acrescentarmos a isso novas camadas de significados concretos. Tecnologias, incluídas as sociais, que agreguem valor aos nossos recursos naturais e culturais, reconhecendo nosso povo em suas expressões originárias”, aponta.
Ao fim do ato, o reitor Paulo Miguez também leu a Carta em Defesa da Soberania Nacional, manifesto coletivo assinado por centenas de entidades e que já conta com mais de 19 mil assinaturas. O documento, que pode ser assinado de forma virtual, defende a unidade da população em defesa do Estado Democrático de Direito.
“Brasileiras e brasileiros, diálogo e negociação são normais nas relações diplomáticas, violência e arbítrio, não! Nossa soberania é inegociável. Quando a nação é atacada, devemos deixar nossas eventuais diferenças políticas para defender nosso maior patrimônio. Sujeitar-se a esta coação externa significaria abrir mão da nossa própria soberania, pressuposto do Estado Democrático de Direito, e renunciar ao nosso projeto de nação”, salienta a carta.