O avanço da espuma tóxica no rio Tietê, registrado por imagens de satélite nas últimas semanas na região de Salto e Itu (SP), é resultado do descarte cotidiano e em larga escala de resíduos domésticos, como detergentes e shampoos, que se acumulam por falta de tratamento de esgoto. A informação é do geógrafo Wagner Ribeiro, professor da pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP).
“Em geral, parte importante desse material vem de detergente, shampoo, enfim, coisas que nós usamos de maneira cotidiana e que é descartado em larga escala”, explica Ribeiro em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo ele, o problema se agrava em períodos secos, como o atual, com pouca chuva e menor volume de água no rio. “Isso faz com que a diminuição do volume de água propicie essa aglutinação desses materiais, formando esse material mais denso”, diz.
O contato com a espuma pode causar ferimentos na pele e, para o rio, os impactos são severos. “Toda biota local sofre muito, porque esse material muitas vezes impede a penetração de luz, muda os padrões de oxigenação da água e isso afeta certamente todos os peixes e demais animais que vivem no rio”, aponta.
Ribeiro também critica a falta de políticas de tratamento de esgoto e pontua que a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) não resolve o problema. “É evidente que deveríamos tratar a água, ou melhor, dar o destino adequado aos resíduos, principalmente tratar o esgoto, mas não acredito que depois do processo de privatização da Companhia de Saneamento isso vá ocorrer”, lamenta.
“Lamentavelmente, o esgoto não é tratado. Ele é coletado, quando muito, e sem comentar também as várias ligações clandestinas que destinam diretamente o resíduo, seja domiciliar e algumas vezes até industrial. O industrial, precisa ser dito, diminuiu bastante, graças à atuação da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], mas, basicamente, é resíduo residencial em larga escala”, afirma.
Programa Adapta Brasil
Sobre o programa Adapta Brasil, do governo federal, que vai apoiar 581 municípios na elaboração de planos de adaptação às mudanças climáticas, o professor elogia a iniciativa, mas destaca que ela não inclui diretamente a questão do saneamento. O foco do programa, segundo Ribeiro, está nos riscos de desastres ambientais extremos.
“Os critérios utilizados foram municípios que estão mais vulneráveis, por exemplo, a alagamentos, escorregamento de vertente. Basicamente, o risco que esses municípios têm de sofrer consequências graves, especialmente por conta das mudanças climáticas, em especial, chuvas intensas”, explica.
Para o pesquisador, iniciativas como o Adapta Brasil são fundamentais diante dos desafios climáticos atuais. “Temos que, de fato, preparar a população, preparar os gestores para esse desafio enorme que é enfrentar mudanças climáticas”, aponta.
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