O ex-atacante da seleção da Palestina Suleiman Al-Obeid foi morto nesta quarta-feira (6) por forças israelenses no momento em que aguardava por ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza. A informação foi confirmada pela Federação Palestina de Futebol (PFA, na sigla em inglês), que publicou uma nota com detalhes sobre o caso.
Ele se torna mais uma vítima de uma prática que se tornou comum. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1.560 palestinos foram mortos por forças israelenses enquanto tentavam acessar ajuda humanitária em Gaza.
Entre os 83 palestinos mortos nesta terça-feira (5), 58 foram executados por soldados israelenses enquanto se aproximavam de centros de distribuição de alimentos operados pelo Fundo Humanitário Global (GHF), apoiado por Estados Unidos e Israel.
Nascido em 1984, na Cidade de Gaza, Al-Obeid tinha 41 anos, era casado e pai de cinco filhos – dois meninos e três meninas. A federação afirma que ele estava entre os civis que esperavam por alimentos quando foi atingido por disparos. Conhecido por sua habilidade e velocidade, acumulava apelidos como “Pelé do futebol palestino”, “gazela” e “joia negra”.
A carreira do atacante começou no clube Khadamat Al-Shati (Serviços da Praia). Mais tarde, ele se transferiu para o Centro Juventude Al-Amari, na Cisjordânia ocupada, e em seguida defendeu o Gaza Sports Club. Com passagem pela seleção nacional, Al-Obeid disputou 24 partidas internacionais e marcou mais de 100 gols em sua trajetória.
Esporte sob ataque
Com a morte de Al-Obeid, o número de integrantes da comunidade esportiva palestina mortos desde o início da guerra de Israel contra Gaza chegou a 662, segundo a federação. Desses, 321 faziam parte diretamente da estrutura do futebol – entre jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes e funcionários de clubes.
Grupos de defesa dos direitos humanos têm cobrado da Federação Internacional de Futebol (Fifa) a suspensão de Israel por violações cometidas contra atletas palestinos. A PFA também denuncia a presença de clubes israelenses sediados em assentamentos ilegais na Cisjordânia participando de competições nacionais – o que contraria as normas da própria Fifa contra a discriminação.
Fome e ataques nas filas de ajuda
A ofensiva israelense sobre Gaza, iniciada em 7 de outubro de 2023, já matou ao menos 61.158 pessoas e deixou mais de 151 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde do enclave. A fome se agrava: o Programa Mundial de Alimentos da ONU alertou que famílias palestinas estão passando dias sem comer. O número de mortes por inanição chegou a 193, sendo cinco delas nas últimas 24 horas.
Organizações da ONU e agências humanitárias criticam as autoridades israelenses por restringirem severamente a entrada de ajuda e profissionais de saúde na Faixa de Gaza. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o número de equipes médicas impedidas de entrar aumentou em quase 50% desde março – 102 profissionais, incluindo cirurgiões e especialistas, foram barrados.
Segundo o vice-porta-voz do secretário-geral da ONU, Farhan Haq, Israel só permite que a ajuda chegue por dois pontos de passagem: Karem Abu Salem (Kerem Shalom) e Zikim. “Isso atrasa nosso trabalho num momento em que todos os obstáculos deveriam ser removidos para salvar vidas”, disse Haq.