Há legados que atravessam décadas como sementes lançadas ao vento. O de Paul Singer é um deles. Economista, professor e militante, Singer dedicou a vida a propor, por meio da organização popular, um outro modelo de economia, pautado na solidariedade, na autogestão e no fortalecimento de cooperativas e organizações comunitárias. Uma proposta que não se limita a teorias, mas que floresce nos territórios onde as mãos do povo transformam dificuldades em trabalho coletivo e dignidade.
Entre 1 e 4 de agosto, no Centro Frei Humberto, em Fortaleza, o seu legado ganhou corpo e voz com a realização do 1º Módulo de Formação da Turma Nordeste 1 do Programa Nacional Paul Singer, que reuniu agentes do Ceará, Piauí e Maranhão. Uma iniciativa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (Senaes), em parceria com a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).

O programa, que já mobiliza o país com 54 coordenadores estaduais, dois por unidade da federação, e 500 agentes territoriais, tem a missão de fortalecer a economia popular e solidária como política pública estratégica. Atuando em territórios camponeses, tradicionais e periféricos, esses agentes construirão diagnósticos, articular iniciativas e fortalecer empreendimentos que sustentam comunidades e mantêm viva a chama da autogestão.
No módulo Nordeste 1, histórias como a de Lindicássia Nascimento mostram a potência transformadora da economia solidária. Vinda de Barbalha, no Cariri cearense, coordelista e articuladora de grupos de mulheres artesãs, artistas populares e agricultoras, ela vê no Programa Paul Singer uma oportunidade de ampliar a mobilização e o mapeamento dos empreendimentos e grupos de economia solidária. “É preciso mais políticas públicas, incentivo e reconhecimento. O programa é um passo importante, mas temos muito a avançar”, afirma.
Do Sul do Cerrado maranhense, Aldecy Pereira carrega mais de três décadas de trabalho com economia solidária. Para ele, o programa representa uma oportunidade de retomar um caminho que vem sendo trilhado desde os anos 1990. “Espero que com o Programa Paul Singer possamos fortalecer a economia solidária como ferramenta para uma transformação social, econômica, política, cultural e ambiental no nosso território e quem sabe, em todo o país”, diz.
Já Tamy Barbosa, da coordenação estadual do Programa Paul Singer no Ceará, destaca a importância de retomar as políticas que fomentam a economia solidária no governo do presidente Lula. Ela lembra que as políticas foram desmontadas no governo anterior, mas ressalta a resistência das organizações e a necessidade de apoio para a rearticulação e expansão das iniciativas.
O encontro em Fortaleza não foi apenas formativo. Foi também espaço de articulação política. Isso porque vem aí a 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária (4ª CONAES), que acontecerá de 14 a 17 de agosto de 2025, em Brasília, reunindo mais de mil participantes para debater políticas públicas e o futuro da economia solidária no Brasil. O tema deste ano resume o espírito do momento: “Economia Popular e Solidária como Política Pública: Construindo territórios democráticos por meio do trabalho associativo e da cooperação”.
Gilberto Carvalho, titular da Senaes, por ocasião do lançamento do programa, em entrevista ao Brasil de Fato, falou das suas expectativas com a economia solidária. “O Paul Singer foi o grande inspirador de um movimento que pressionou o presidente Lula em 2003 a criar uma estrutura de governo voltada para estimular esse setor. Esperamos que um dia se torne um grande ministério. Nós não queremos ficar como um nicho. A economia solidária tem que dar forma, dar conteúdo, influenciar o conjunto da economia.
De Fortaleza a Brasília, de Barbalha ao Sul do Cerrado, o que se reafirma é que a economia solidária resiste, se reinventa e se fortalece. O legado de Paul Singer não está apenas na memória, mas em cada agente territorial, em cada grupo mobilizado, em cada semente plantada para transformar vidas.