A entrada em vigor do tarifaço imposto pelos Estados Unidos nesta quarta-feira (6) acende o sinal de alerta em setores estratégicos da economia brasileira. A medida, que estabelece uma taxação de 50% sobre parte das exportações nacionais, atinge diretamente produtos como carne e café, pilares da balança comercial com os EUA. Para o economista-chefe da Levante Asset, Jason Vieira, o Brasil corre contra o tempo para tentar conter os efeitos.
“Se for definitivo, alguns setores simplesmente não têm competitividade para entrar no mercado americano. Esquece, encerra, espera, vê se troca o governo e consegue abrir uma conversação mais direta”, avalia, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Apesar de quase 700 itens terem ficado de fora da nova taxação, os efeitos sobre setores específicos já são sentidos. “Nós estamos falando, na verdade, da pauta de quatro grandes itens: suco de laranja, peças de aviação, o café e a carne. O café e a carne ficaram de um lado, mantida a taxação, e o restante não teve taxação. Esses quatro praticamente dominam a nossa balança comercial com os Estados Unidos”, aponta.
Impactos e isenções calculadas
No caso da carne, a preocupação é imediata. “O setor aqui de carne no Brasil está bastante preocupado, já está entrando em férias coletivas de certa maneira, está tentando trabalhar os impactos disso no curto prazo”, diz Vieira. Ele explica que o tipo de carne exportado, a chamada carne mecanicamente separada, usada para ração e hambúrguer, tem baixa demanda interna, o que dificulta a redistribuição.
O café, por ser uma commodity, deve sofrer menos impacto interno. “Aumentar ou reduzir a oferta no Brasil não faz muita diferença […]. A oferta mundial está reduzida e a demanda elevada, especialmente na Ásia. Então isso é mais fácil, porque é um produto disputado”, avalia.
O economista analisa que a estratégia de Trump ao isentar parte dos produtos foi calculada. “Taxar a Embraer, por exemplo, não valia a pena, porque boa parte daquilo que é montado nos aviões vem dos Estados Unidos. A carne, por outro lado, eles conseguiram abrir mercado com a Austrália. Foi estratégico”, indica.
Vieira também critica o plano de contingência anunciado pelo governo brasileiro. “É um gasto do governo que tem um impacto significativamente limitado. Não se sabe em quanto tempo isso vai passar, a extensão das tarifações. As conversas ainda não chegaram a um nível mais maduro com os EUA. Nós resolvemos sair correndo na última semana para tentar resolver alguma coisa, mas ainda está de maneira muito prematura tudo o que está acontecendo”, diz.
Segundo ele, buscar novos mercados para os produtos afetados não é algo simples. “Buscar mercados alternativos não é uma coisa que se consegue fazer muito facilmente […]. Nós estamos falando muitas vezes de produtos extremamente específicos que não têm aderência em outros mercados”, esclarece.
No mercado financeiro, o impacto imediato do tarifaço foi praticamente nulo. “O dólar já abriu uma queda, as bolsas estão subindo […]. Desde o que nós chamamos do Liberation Day, quando foram anunciadas as tarifas, o mercado teve uma reação muito forte e desde lá só tem se recuperado”, pondera.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.