Na manhã desta quinta-feira (7), a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou uma audiência pública para debater a precarização das condições de trabalho dos funcionários da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF) e as condições estruturais em que o sistema metroviário do DF se encontra.
Durante a reunião, presidida pelo deputado Fábio Félix (Psol-DF), representantes da categoria levantaram os principais fatores que provocaram o crescimento de problemas operacionais no sistema metroviário. A deterioração das instalações e a desvalorização dos servidores são as principais causas.
Entre janeiro e abril deste ano, o Metrô-DF registrou 25 falhas que interromperam a circulação do transporte, incluindo interferências técnicas e paralisações por manutenção. Em 2024, três trens pegaram fogo por superaquecimento e falhas elétricas. A mais recente, porém, aconteceu na manhã desta sexta-feira (8), com a interrupção da circulação de trens e o fechamento de todas as estações, em razão de uma falha no sistema de energia elétrica, de acordo com o Metrô-DF.
Atualmente, o sistema metroviário conta com 32 trens em operação que atendem cerca de 160 mil usuários por dia. De acordo com os funcionários do metrô, parte dos veículos está sucateada e alguns estão parados por falta de manutenção.
O deputado Fábio Felix avaliou que o projeto de ampliação do metrô desconsidera solucionar os problemas que o sistema já enfrenta atualmente e disse que as tragédias eram “anunciadas e previsíveis”. “Os trabalhadores e os sindicatos já apresentaram esses problemas inúmeras vezes, alguns que vivemos e outros que ainda podemos viver”, frisou.
Leandro Grass, presidente do do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ex-deputado distrital, também esteve presente na mesa de debate. Grass criticou a falta de investimento contínuo na mobilidade urbana da capital federal.
“Parece não haver um projeto de médio e longo prazo. Aliás, mesmo em curto prazo, notamos falhas contínuas e diárias no sistema, que não são de responsabilidade dos operadores, que são os trabalhadores. O problema reside na ausência de uma política de investimento contínuo, de uma governança sólida, transparente e participativa, e, principalmente, na falta de um projeto abrangente para a mobilidade urbana na capital da República”, argumentou.

Falta de investimento
Há 12 anos a companhia não realiza concursos públicos para contratação de funcionários. O último processo seletivo foi realizado em 2013, que ofertou 232 vagas para níveis médio e superior.
Para o deputado, o investimento é essencial para que o metrô funcione com qualidade e atenda de forma efetiva a população. “Os trabalhadores se dedicam a horas de trabalho, fazem um trabalho fundamental para a sociedade. É um trabalho que tem uma relação direta com o risco todos os dias. Então, para que funcione com qualidade e atenda a população, o metrô DF precisa de investimento.”
Diretora do Sindicato dos Metroviários (SindMetrô-DF), Neiva Lopes, relatou que os servidores trabalham em um sistema sobrecarregado, chegando a exercerem uma jornada de mais de nove horas por dia e sem folga.
“Nós tivemos que assinar um acordo coletivo com esses trabalhadores que atuam nove horas e meia por dia para cumprir o compromisso com público usuário, para o metrô não fechar”, contou.

Além da sobrecarga de trabalho, os funcionários estão expostos constantemente à situações de risco nas estações e nos trens, o que tem afetado a saúde mental da categoria nos últimos anos.
“O quadro de doenças mentais chega a 80% [dos funcionários] do metrô por causa das péssimas condições de trabalho”, disse Neiva Lopes. “Nós temos, na área de estação, cancelas abertas. Não têm empregados para abrir as bilheterias. A área da segurança trabalha sem equipamento.”
O deputado Max Maciel (Psol-DF) explicou que há uma grande migração de metroviários para outras áreas devido às baixas condições de trabalho no setor. “Não é só sobre remuneração, mas é sobre condição de trabalho. Tem metroviários indo para outros concursos. Receber menos, porque tem condição de trabalho. Não consegue ter qualidade se não tem condição de trabalho, mesmo ganhando uma remuneração que pode considerar, naquele momento, razoável.”