Recebi, com o coração apertado, a notícia do falecimento de Dona Beth nesta segunda-feira (11). Eu a conheci quando a entrevistei para a série de reportagens Mulheres por trás das Cozinhas Solidárias. Ela me recebeu com um café quentinho e cuecas viradas, como quem diz com um gesto carregado de afeto: “Tu é bem-vinda”. Lembro dela como uma pessoa de palavras carinhosas, que acolhia com um sorriso quem precisava de um pouco de amparo.
Dona Beth possuía uma força tranquila capaz de transformar qualquer dificuldade em esperança. Era uma dessas mulheres que, diante da dor coletiva, se solidarizava. Quando a enchente de maio de 2024 atingiu Porto Alegre, ela ajudou a transformar a Associação de Costureiras da Vila Barracão, na qual liderava, em uma Cozinha Solidária. Onde antes se teciam fuxicos e aventais, passou a ser um local de produção e distribuição de marmitas. As panelas substituíram as agulhas para servir alimento a quem tinha o prato vazio.

Recordo dela contando que, no início, servia comida sob um gazebo emprestado, enfrentando chuva e vento, mas sem deixar faltar alimento para quem precisava. “Se a gente parar, eles vão ficar muito pra baixo”, me disse. Essa frase, pra mim, carrega um significado profundo: alimentar também é sobre sustentar o ânimo, cuidar da alma.
Mesmo diante das dificuldades – a escassez de recipientes e o espaço apertado –, ela nunca deixou de olhar para o futuro. Falava, animada, em retomar a sala de costura, reunir novamente as mulheres para transformar tecidos em histórias. Sonhava com esse retorno. “Espero que as coisas se ajeitem para nós ter a nossa sala de costura de volta. Vai ajudar muito, até pra fazer o avental, até pra fazer touquinha”, confidenciou na época.
Elisabeth Lopes da Silva, conhecida carinhosamente como Dona Beth, deixa um legado de afeto, coragem e luta coletiva. Hoje me despeço certa de que a sua história permanecerá viva em cada pessoa tocada por seu cuidado.
Tecendo solidariedade, a dedicação de Dona Beth para alimentar vítimas da enchente em Porto Alegre:
*Jornalista do Brasil de Fato RS.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.