Um ataque de Israel à Cidade de Gaza na noite deste domingo (10) matou pelo menos seis jornalistas, incluindo cinco trabalhadores do veículo do Catar Al Jazeera. De acordo com a emissora, o ataque foi direcionado a uma tenda que abrigava profissionais da imprensa, localizada em frente ao portão principal do Hospital al-Shifa.
Entre as vítimas estão Anas al-Sharif, Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa. A sexta vítima é Mohammad al-Khaldi, descrito como “criador de um canal de notícias no YouTube” pelo grupo de direitos de imprensa Repórteres Sem Fronteiras.
Israel admitiu o ataque intencional, que tinha como principal alvo Anas al-Sharif, sob a alegação de suposta ligação do profissional com o Hamas, o que foi negado pela rede de televisão.
Pouco antes de ser morto, al-Sharif, de 28 anos, publicou em seu perfil no X que Israel realizava intensos bombardeios, conhecidos como cinturões de fogo, no leste e sul da Cidade de Gaza. Em seu último vídeo, era possível ouvir explosões e ver o céu escuro iluminado por clarões laranja.
Em uma mensagem final, que deveria ser publicada caso fosse morto, al-Sharif afirmou que “viveu a dor em todos os seus detalhes” e “experimentou a dor e a perda repetidamente”.
“Apesar disso, nunca hesitei em transmitir a verdade como ela é, sem distorção ou deturpação, esperando que Deus testemunhasse aqueles que permaneceram em silêncio, aqueles que aceitaram nossa matança e aqueles que sufocaram nossa respiração”, disse.
“Nem mesmo os corpos mutilados de nossas crianças e mulheres comoveram seus corações ou impediram o massacre ao qual nosso povo tem sido submetido há mais de um ano e meio”, concluiu. O repórter deixa dois filhos.
Em um comunicado, a Al Jazeera Media Network condenou os assassinatos e classificou a ação como “mais um ataque flagrante e premeditado à liberdade de imprensa”.
“Este ataque ocorre em meio às consequências catastróficas do atual ataque israelense a Gaza, que resultou no massacre implacável de civis, na fome forçada e na destruição de comunidades inteiras“, afirmou a rede.
“A ordem para assassinar Anas al Sharif, um dos jornalistas mais corajosos de Gaza, e seus colegas é uma tentativa desesperada de silenciar as vozes que expõem a iminente tomada e ocupação de Gaza.”
A empresa também afirmou que “a imunidade dos perpetradores e a falta de responsabilização encorajam as ações de Israel e incentivam ainda mais a opressão contra testemunhas da verdade”. Por fim, pediu à comunidade internacional “medidas decisivas para deter este genocídio em curso e pôr fim aos ataques deliberados a jornalistas”.
O primeiro-ministro do Catar, país-sede da emissora, criticou duramente Israel nesta segunda-feira (11) pela morte dos profissionais.
“O ataque deliberado de Israel contra jornalistas na Faixa de Gaza revela crimes inimagináveis (…) Que Deus tenha misericórdia dos jornalistas Anas Al-Sharif, Mohammed Qraiqea e seus colegas”, disse o primeiro-ministro, xeique Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, em uma mensagem na rede social X.
Desde outubro de 2023, Israel acusa regularmente jornalistas palestinos em Gaza de ligação com o Hamas, o que, segundo grupos de direitos humanos, busca desacreditar as denúncias de crimes praticados pelos israelenses. Israel já matou mais de 200 profissionais de imprensa.