O senador e candidato à presidência da Colômbia Miguel Uribe morreu nesta segunda-feira (11) depois de 2 meses de ser baleado em um discurso de campanha eleitoral. Ele estava internado na Fundação Santa Fé, estava em estado grave e já tinha realizado procedimentos neurocirúrgicos. A morte foi confirmada pela esposa, María Claudia Tarazona, nas redes sociais.
“Nosso amor transcende este plano físico. Espere por mim, porque quando eu cumprir minha promessa aos nossos filhos, irei te encontrar e teremos nossa segunda chance”, publicou.
Os boletins médicos da clínica indicaram nas últimas semanas uma “estabilidade” dentro de um quadro grave de saúde. No último sábado (9) a situação piorou depois que Uribe sofreu “hemorragia intracerebral aguda”. Com isso, ele precisou fazer outra operação. Durante a tarde, a Fundação Santa Fé publicou uma atualização avisando que a situação do senador era “extremamente crítica” devido a “edema cerebral persistente” e “hemorragia intracerebral de difícil controle”.
Dois ex-presidentes integrantes do partido de Uribe lamentaram a morte do senador. Álvaro Uribe, líder do Centro Democrático – que não tem relação de parentesco com Miguel -, e o ex-mandatário Iván Duque, fizeram publicações nas redes sociais protestando contra o que chamaram de “criminosos colombianos”.
Uribe foi atingido por três disparos em 7 de junho, dois deles na cabeça e um no joelho, quando discursava em um bairro da capital colombiana. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o momento do ataque, em que o senador cai no chão após ser atingido, e depois aparece ensanguentado, sendo socorrido sobre um veículo.
Logo após os ataques, a polícia prendeu um jovem de 14 anos que era indicado como autor dos disparos. O Ministério Público, no entanto, continua com as investigações e disse que nenhuma hipótese foi descartada.
O atual presidente, Gustavo Petro, formou um conselho de segurança para atuar sobre o caso. O ministro da Defesa, Pedro Sánchez Suárez, afirmou que o governo trabalha com três possibilidades para as origens do ataque contra o integrante do partido de direita Centro Democrático.
“Poderíamos classificar em três grupos principais: se foi diretamente porque era Miguel Uribe Turbay, ou por sua ligação com o seu partido político, ou se foi uma tentativa de desestabilizar o governo nacional por meio de ataques a membros que discordam da atual gestão. Este ataque tem um impacto na estabilidade do nosso país”, resumiu.
Miguel Uribe é neto de Julio César Turbay, que foi presidente da Colômbia entre 1978 e 1982, e a jornalista Diana Turbay. Formado em Direito pela Universidade de Los Andes, concluiu mestrado em Administração Pública em Harvard. Em 2012, com 25 anos, foi eleito vereador de Bogotá pelo Partido Liberal, grupo de seu avô. Na época, ele já era uma voz crítica ao então prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, o que o fez crescer dentro da direita colombiana.
Mais tarde, atuou como secretário de governo de Bogotá e se candidatou à prefeitura da capital, sendo derrotado em 2019. Em 2022, se elegeu senador e também ficou marcado nos últimos anos como um dos principais opositores de Petro na Casa Alta. Sua principal crítica era contra a política de paz total, na qual o governo tentava negociar acordos de cessar-fogo contra os diferentes grupos armados no país.
Agora, ele era pré-candidato às eleições presidenciais de 2026. Uribe, que até então não era o favorito para o Executivo, começou a liderar alguns levantamentos depois dos ataques. O primeiro deles depois do atentado, feito pela empresa EcoAnalítica, indica que o senador tem 13,7% das intenções de voto contra 11,5% de Vicky D’Ávila. Na terceira colocação aparece o ex-senador Gustavo Bolívar, aliado do atual presidente Gustavo Petro, com 10,5%.
Violência eleitoral
Ataques contra políticos em campanhas não são novidade na Colômbia. Este é um problema que se arrasta há décadas no país e atinge muitos líderes da esquerda colombiana. O caso mais emblemático foi o de Jorge Eliécer Gaitán, vítima de um ataque a tiros em abril de 1948, quando era o principal líder progressista da Colômbia e potencial candidato presidencial.
Sua morte colocou fim a um projeto de reforma agrária e é considerada uma das primeiras faíscas do que viria a ser a guerra civil no interior da Colômbia, iniciada alguns anos depois.
As décadas de 1980 e 1990 também ficaram marcadas pela escalada da tensão política envolvendo as eleições no país. Em 1989, o então candidato do Partido Liberal, Luis Carlos Galán, foi morto pelo cartel de Medellín durante a campanha eleitoral. Ele era um dos favoritos na disputa. Meses depois, outros candidatos foram mortos: Bernardo Jaramillo Ossa (União Patriótica – UP) e Carlos Pizarro Leongómez (M-19, ex-guerrilheiro que se tornou candidato), assassinado em abril.
As eleições de 2022, que resultaram na vitória de Petro, também tiveram episódios de violência. De acordo com a Fundação Paz e Reconciliação (Pares), entre 13 de março e 13 de maio, 222 pessoas foram vítimas de violência eleitoral na Colômbia, sendo 29 assassinatos e 193 ameaças.
Segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz), somente no primeiro semestre de 2022 foram registradas 42 chacinas em todo o país e, após seis anos da assinatura dos Acordos de Paz, 1.624 ex-combatentes e líderes comunitários foram assassinados.