A Diocese de Santa Cruz está celebrando um duplo Jubileu: o Jubileu da Esperança, convocado pelo Papa Francisco; o Jubileu do Encontro das Sementes, iniciado há 25 anos atrás. O cruzamento dessas duas sementes produzirá muito júbilo e esperança.
O profeta Isaías diz que são formosos sobre as colinas os pés de quem anuncia boas notícias (cf. 52,2). E nós dizemos que são abençoadas as mãos que espalham e trocam sementes, as pessoas que se fazem guardiães das sementes para as próximas gerações.
As sementes carregam dentro de si um mistério precioso: a força, a autonomia e a sabedoria para germinar, crescer, florescer e frutificar. Não por acaso, Jesus Cristo compara o tesouro do Reino de Deus com o mistério da semente (cf. Mateus 13,3-9).

As pessoas que semeiam e plantam alimentos são mestres de Esperança. Não há como fazer isso sem confiar, e confiar muito. Confiar que a terra e a semente sejam boas; que o clima colabore; que as pragas não destruam; que todos estejam vivos para a colheita.
Ainda mais dignas de admiração são as pessoas que resgatam sementes nativas, guardam e protegem estas sementes e as distribuem gratuitamente. Essas pessoas ajudam a manter a biodiversidade e contribuem para a segurança alimentar dos povos.
No Brasil, a agricultura familiar e os guardiães das sementes são como o pequeno Davi desarmado que ousa enfrentar o gigante Golias, armado até os dentes e apoiado por gente poderosa. Mas escondem na mão as pedrinhas da sabedoria e da organização.
Com a sabedoria e a organização popular, eles saberão defender os direitos do povo mais humilde e libertar as sementes dos grandes, que se apresentam como seus donos. Será que alguém pode patentear e vender o ar, a água, o mistério da vida?
Cultivar, proteger e distribuir sementes genuínas é uma batalha importante, e nessa guerra não há tréguas. “Não podemos se entregar pros homens, de jeito nenhum, amigo e companheiro!” Não entreguemos nossas sementes ao controle dos inimigos.
Guardemos as sementes crioulas como guardamos nossa honra e nossos poucos bens. Cultivemos estas sementes como quem cultiva a esperança. Partilhemos esses pequenos mistérios de vida como geramos e multiplicamos a vida humana.

Que o volume da produção e o lucro não sejam os únicos valores que nos guiam. “O pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada!” Haverá maior retorno que contribuir para que o povo tenha acesso a bons alimentos e seja livre?
O “Deus Criador” e “Pai dos Pobres” formou nossos pais da terra úmida, colocou-os no jardim “para cultivá-lo e guardá-lo”, e confiou-lhes “toda erva que dá semente e todas as árvores que produzem fruto com sua semente” (cf. Gênesis 1,29; 2,7.15).
Honremos nossos antepassados! Sejamos guardiães, cultivadores e distribuidores das sementes crioulas, mais resistentes e mais democráticas que aquelas que vendem ilusões e semeiam miséria, dependência e competição. E não cansemos de fazer o bem!
*Dom Itacir Brassiani msf é bispo de Santa Cruz do Sul.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.