Um dos maiores líderes da luta pelos direitos dos povos originários no Brasil, o pensador indígena Ailton Krenak será homenageado com a Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A honraria foi aprovada na última quarta-feira (13) por iniciativa da deputada Dani Monteiro (Psol).
Para a autora da homenagem, a justiça social começa pelo respeito aos povos originários. “Ailton Krenak representa a ancestralidade viva de um Brasil que ainda teima, em 2025, em ignorar suas raízes indígenas. Num país que por tanto tempo negou a existência e os direitos dos seus primeiros habitantes, Krenak é indispensável”, afirma.
O pensador, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu no Córrego do Itabirinha, distrito de Itabira no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, pertencente à etnia Krenak. Em 2024, se tornou o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). A data da cerimônia de entrega da Medalha Tiradentes ainda será divulgada.
A partir da década de 1980, Ailton passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena. Fundou organizações como a União dos Povos Indígenas e a Aliança dos Povos da Floresta, que reuniu povos indígenas e seringueiros em torno da criação das reservas extrativistas na Amazônia para proteger a floresta e as comunidades que nela vivem.
:: Quer receber notícias do Brasil de Fato RJ no seu WhatsApp? ::
Em entrevista ao Brasil de Fato em junho, o imortal da ABL questionou a ideia de progresso. “Cuidar do corpo da Terra para além de consumir. Consumir, consumir, consumir o que se chama de “recursos naturais”. Esse é um erro cultural que nos afeta não só no Brasil, mas quase no mundo todo. Adiar o fim do mundo talvez seja pôr em questão o progresso, e principalmente a partir da pandemia, por em questão a utilidade de muitas coisas que nós investimos e fazemos, mas que só estão erodindo a vida no planeta. Se nós estamos perdendo a qualidade da vida no planeta, adiar a experiência aqui implicaria em a gente buscar outros paradigmas. Mudar a ideia de que somos uma humanidade com ampla coincidência de propósito, todos indo para o mesmo lugar”, refletiu.
No contexto das discussões da Assembleia Constituinte, Krenak liderou a luta pelos princípios inscritos na Constituição Federal do Brasil que reconhecem os indígenas como cidadãos de direitos. Em um dos gestos mais emblemáticos na tribuna do Congresso, Krenak passou tinta de jenipapo no rosto enquanto discursava em defesa dos povos originários – fato que entrou para a história e mobilizou a opinião pública.
Krenak também é autor de obras traduzidas para diversos países e professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente ele vive na Reserva Indígena Krenak, no município de Resplendor (MG).