A Heróica Companhia Cênica apresenta ORioLEAR, adaptação do texto de Shakespeare, que atualiza a obra abordando temas climáticos e sociais urgentes. O espetáculo, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo (SP), mistura elementos poéticos e oníricos à realidade amazônica, explorando a devastação ambiental e a luta pela demarcação de terras.
“Esse espetáculo faz um deslocamento do rei Lear, da Grã-Bretanha, para uma região amazônica. E nós falamos muito sobre a questão da divisão das terras”, conta o ator Ronny Abreu, natural de Santarém (PA) e integrante da companhia. Ele explica que seu personagem, criado especialmente para a adaptação, pede a devolução simbólica do nome do rio. “Para nós que somos dessa região amazônica, o rio não é só água e peixe. Ele é caminho, é estrada, ele é vida”, diz.
O ator revela que a sua vivência na Amazônia influencia a encenação. “Morei na mata até seis anos de idade, convivi muito nesse território, conheço bem o Arapião, os tapajós, é meu povo. É um povo sofrido, mas é um povo feliz, mas é um povo que caminha nas águas, é um povo que reza, é um povo que conversa com as plantas. Então isso tinha que estar, de alguma maneira, no espetáculo”, aponta.
“Se o rio secar, como é que vamos chegar ao mar? Como vamos nos deslocar nessa região amazônica, que é gigantesca? Há uma preocupação real de que as coisas podem acabar”, alerta, ao mencionar as queimadas na sua região natal. “Pela primeira vez, em 52 anos, não consegui ver o outro lado da margem de tanta fumaça. Aquilo me incomodou bastante. E é claro que trago essa carga no espetáculo, porque sou de lá”, explica.
‘Erramos quando não nos sentimos parte da natureza’
A peça também provoca reflexão sobre a responsabilidade humana na preservação ambiental. “O momento que eu acredito que erramos é quando não nos sentimos parte da natureza. Porque, em algum momento, entendemos que o ser humano é mais importante do que uma samaúmeira, do que uma castanheira… Mas nós, seres humanos, somos prepotentes ao ponto de achar que temos o direito de ir lá e cortá-la”, analisa.
Para Abreu, o teatro funciona como um alerta e um convite à consciência coletiva. “Nós atores, diretores, somos o beija-flor. Fazemos a nossa parte. Se conseguirmos fazer com que as pessoas reflitam no uso de materiais, reflitam ao percorrer um rio e não jogar pets, latas de alumínio no rio, cuidar mais dos seus aspectos naturais […] já cumprimos um pouco o nosso papel”, reflete.
ORioLEAR segue em cartaz no Itaú Cultural, na capital paulista, até domingo (17), com sessões de quinta e sexta às 20h e domingo às 19h. Apesar dos ingressos terem esgotado online, ainda é possível tentar a “fila da esperança” no local, indica o ator.
Para ouvir e assistir
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