O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado, tornará o Brasil “um exemplo para democracias que estão sofrendo atentados” e passará uma imagem “muito positiva sobre sua saúde democrática”, avalia o cientista político Paulo Roberto de Souza, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta segunda-feira (18), o professor afirmou que o julgamento do ex-presidente, previsto para começar no dia 2 de setembro, irá mostrar que as instituições brasileiras resistiram a uma tentativa de golpe de Estado e que “irão dar uma resposta, principalmente, àqueles que têm intenções de tentar atacar a nossa democracia”.
Para Souza, a condenação de Jair Bolsonaro é o cenário mais provável e, se concretizada, será responsável pela fragilização da extrema direita na corrida eleitoral para 2026.
“A extrema direita deve ter problemas, porque a figura de Bolsonaro é muito importante nesse processo. Não estamos falando sobre colocar no santinho, trazer na propaganda, ‘eu sou o candidato do Bolsonaro’, estamos falando sobre Bolsonaro enquanto figura [ativa] nesse processo, o que com a condenação não vai acontecer. Ele já está cassado, com seus direitos políticos embargados, então ele já não vai poder participar”, afirma.
O professor considera que, mesmo com a exclusão do ex-presidente do cenário eleitoral, a presença dos “antidemocráticos” e da extrema direita deve perdurar por algum tempo. “O que mais tende a demorar [a chegar] é a possibilidade de uma centro-direita democrática, a exemplo da que tivemos ali, principalmente, na polarização entre PT e PSDB, nos últimos vinte e poucos anos. Hoje, esse espaço está tomado pela extrema direita populista e provavelmente também teremos uma rearticulação nos moldes um pouco mais democráticos de parte dessas lideranças, que devem ainda protagonizar a polarização política com o campo progressista no Brasil nos próximos anos”, diz.
No cenário internacional, o cientista político acredita que o julgamento de Bolsonaro e do “núcleo crucial” envolvido nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que também tem como réus ex-ministros e generais do Exército brasileiro, serve de exemplo para países com democracias em ataque.
“O Brasil passa uma mensagem muito positiva no que diz respeito à sua saúde democrática, ou à tentativa de estabelecimento de uma saúde democrática, e se torna também exemplo para democracias que estão sofrendo atentados muitas vezes disfarçados de ‘liberdade de expressão’ e ‘liberdade de manifestação’ por parte das extremas direitas”, avalia.
O professor pondera que o Brasil também será vilanizado por parte da extrema direita internacional. “[Esses grupos] irão usar o Brasil como um exemplo negativo, como exemplo de perseguição, para articular discursos de medo. Então, provavelmente nós veremos, nos próximos anos, nas próximas eleições, vários desses grupos usando o Brasil como um exemplo negativo. O [Javier] Milei, na Argentina, provavelmente deve fazer isso na próxima eleição”, conclui.
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