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Artigo

Da floresta para a mesa: delícias e encantos do fruto amazônico bacuri

Ao consumi-lo, é preciso compreender e valorizar o papel das comunidades extrativistas no processo produtivo

19.ago.2025 às 16h11
Belém (PA)
Flávio Bezerra Barros
Conhecido também como landirana, o bacuri tem ação antioxidante e pode ser aproveitada em cosméticos

Conhecido também como landirana, o bacuri tem ação antioxidante e pode ser aproveitada em cosméticos - Paulinho de Jesus

Não é popular como o açaí, que enche os bairros de Belém e cidades do interior do Pará com placas indicativas de venda do produto. Impossível encontrá-lo o ano inteiro, pois sua safra ocorre nos primeiros meses do inverno amazônico, iniciando e encerrando sua produção quase como um abrir e fechar de olhos. Em razão dessa efemeridade, quando começam a surgir os primeiros frutos nas feiras e mercados, dispostos pelo chão, dentro de paneiros, em sacos plásticos de 60 kg, em bacias, sobre bancas, os apreciadores logo se movimentam para adquirir este rico e especial produto da nossa sociobiodiversidade amazônica. Assim, quem não se planeja, corre sério risco de ficar sem a iguaria. O tempo da natureza e o trabalho desenvolvido pelas populações extrativistas são, portanto, determinantes.

A árvore é imensa, podendo chegar a 25 metros de altura. Suas flores, rosas e belas, são um chamariz para abelhas que, ao consumirem o néctar, acabam auxiliando no processo de polinização, crucial para ser gerado o fruto. Este tem formato de círculo. Sua casca é meio amarela, meio esverdeada. Ao ser aberto, logo percebemos uma polpa branquinha e perfumada aderida às sementes, que se desprende aos pedaços (conhecidos popularmente como “filhos”). O sabor, um tanto ácido e levemente adocicado, é único e inesquecível. Estou falando do elegante, fino e saboroso bacuri, uma verdadeira preciosidade da Amazônia.

Até chegar aos espaços populares de comercialização nas cidades, percorre um longo caminho, pois sua coleta é geralmente realizada por povos e comunidades tradicionais cujos territórios contêm áreas com ocorrência de bacurizeiros (Platonia insignis), proporcionando beleza à paisagem, mas também gerando renda aos grupos coletores e segurança alimentar às famílias rurais e conjunto da sociedade. A história começa lá nas aldeias, nos quilombos, assentamentos, nas matas e sítios. As pessoas, incluindo mulheres, jovens e crianças, geralmente da mesma família, juntam-se para buscar os frutos de bacuri que caem pelo chão. A tarefa inclui procurá-los, apanhá-los e, na sequência, carregá-los até um certo ponto do bacurizal para ir formando um amontoado deles. Quando não houver mais nenhum fruto à vista sobre o chão da floresta, é hora de voltar para casa com os paneiros ou sacos abarrotados. É uma festa!

Essa atividade é desafiadora, pois implica uma organização complexa. Os quilombolas de Salvaterra, na Ilha do Marajó, por exemplo, saem de casa normalmente na alta madrugada, muitas vezes debaixo de temporal, para juntar essas joias. Na mata de bacurizal, cada família tem uma espécie de “casinha do bacuri”, onde guardam seus pertences, merendas e também o produto coletado. Com arquitetura simples, coberta de palha, elas são um porto seguro, e o melhor, ninguém mexe. O bacurizal, neste contexto específico, é um espaço comunal de práticas e saberes ancestrais, em que todos podem usufruir dessa dádiva da natureza, observadas as regras culturalmente construídas e respeitadas por todos. Em determinadas ocasiões, de modo geral no início da safra, vê-se pessoas subirem nas árvores para derrubar alguns frutos considerados “quase bons”, prática conhecida como “trevoada”. 

A jornada ainda não acabou. Após as etapas já descritas, as famílias vão beneficiar os frutos, retirando a polpa para acondicioná-la em sacos plásticos de 1 kg e, em seguida, armazenar em geladeiras ou freezers. Ou então, vender os frutos in natura. No primeiro caso, o trabalho exige competência e esforço, pois é necessário abrir o fruto com faca, retirar os caroços e depois desprender com ajuda de uma colher a polpa fina que fica presa à semente. Detalhe, a polpa, que é a porção comestível – embora algumas pessoas usem a casca para receitas -, representa aproximadamente 10% de todo o fruto, sendo as demais partes, casca e semente, responsáveis por 70% e 20%, respectivamente. Além de tempo e trabalho dedicados, para a obtenção de 1 kg de polpa, são necessários em média 50 frutos, a depender de sua “carnosidade”. A considerar que uma árvore produz em média cerca de 500 frutos por safra, quantas árvores, quantos frutos, quanto trabalho, quanta energia (da planta e das pessoas) e quanto tempo são investidos para que tenhamos essa fruta nobre alegrando os comensais com seu sabor indescritível? Portanto, quando ouvir críticas do tipo “bacuri custa caro”, pense em todos esses elementos da cadeia produtiva.

Tudo pronto, frutas e polpas trilham distintos caminhos. Podem permanecer nos mercados locais, ou seguir para centros comerciais maiores, viajando pelas águas de nossos rios gigantes ou pelas estradas, ou por ambas. Muita logística, incluindo gastos com fretes, se faz necessário para que esse alimento repleto de propriedades nutricionais valorosas chegue às nossas casas. E por falar nisso, o que o bacuri nos oferece? É rico em fibras, vitamina C, cálcio, proteína, fósforo e ferro, componentes fundamentais para a saúde e para a manutenção da imunidade.

As receitas incluem geleias, compotas, cremes, sucos, vinhos, licores, cervejas, vitaminas, iogurtes, sorvetes, bolos e tortas. Usando o fruto individualmente ou consorciando-o com outros produtos, as sobremesas e bebidas envolvendo o bacuri terão sempre lugar de destaque em qualquer mesa de festa ou mesmo do dia a dia. Sem contar que há uma legião de amantes do fruto que preferem apreciá-lo in natura, do jeito mais tradicional possível, ou seja, comendo-o com farinha d’água e açúcar, ou mesmo puro, sem nenhum acessório. Em minha casa, quando faço creme de bacuri com lascas de castanha-do-pará, não tem para ninguém. Todo mundo cai em cima! Dada sua importância, já vi o bacuri assumir a centralidade de tramas familiares, gerando ciúmes e querelas, quando alguém fica sem aquela polpa ou aquele saboroso creme, mas, quando alguma receita surge com fartura, o sorriso e o contentamento do povo são aparentes. 

Ao consumir esse fruto, é preciso compreender e valorizar o papel das comunidades extrativistas no processo produtivo. Por quê? Primeiro, porque elas ajudam a preservar as áreas de bacurizais a partir do manejo tradicional. Segundo, porque ao adquirir um alimento agroecológico, local, isento de veneno e injustiças socioambientais, os consumidores estão colaborando com sistemas alimentares sustentáveis. Assim, além de termos um componente singular da sociobiodiversidade amazônica compondo nossa cultura alimentar, estamos contribuindo com um mundo melhor, mais sustentável e por que não dizer, mais saboroso. Afinal, não estamos falando de um alimento estranho e estrangeiro, cujo modo de produção e história desconhecemos, mas de um produto nosso, amazônico, brasileiro, repleto de identidade. 

Por fim, porém não menos importante, muito pelo contrário, vale destacar, ainda, a relevância da proteção dos territórios sagrados de povos e comunidades tradicionais, os quais vêm sofrendo toda a sorte de ameaças, colocando em risco esses sistemas produtivos cujas interações sociedade e natureza se entrelaçam a partir de tessituras complexas, visando sempre o bem viver. Que o bacuri continue povoando as cozinhas, mesas e espaços de comedoria, sempre com sua nobreza e sabor inconfundível. 

*Flávio Bezerra Barros é doutor em Biologia da Conservação pela Universidade de Lisboa. Professor Associado do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares da Universidade Federal do Pará (Ineaf/UFPA). É membro do Centro Integrado da Sociobiodiversidade Amazônica (Cisam) da UFPA. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Antropologia). Docente dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia (IFCH) e Agriculturas Amazônicas (INEAF) da UFPA. É membro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), em que foi presidente durante o período de 2018 a 2022. Integra a Rede Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan). É membro da comissão executiva da COP 30 da UFPA e do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30. E-mail: [email protected].

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Editado por: Martina Medina
Tags: alimentosamazônia
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