O possível encontro entre os presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, é o “primeiro passo no sentido de desescalada do conflito, de tentativa de resolução, uma porta que não parecia estar aberta antes”. A afirmação é da professora de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Ana Carolina Marson, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, na manhã desta terça-feira (19).
A avaliação da especialista se dá após o encontro do presidente ucraniano e de líderes europeus com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, na última segunda-feira (18). Durante a reunião, Trump ligou para o Kremlin russo em um aceno a um encontro futuro entre Putin e Zelensky mediado pelos EUA. Caso aconteça, essa será a primeira reunião entre os líderes dos países envolvidos no conflito desde o início da guerra, em março de 2022.
“A reunião de ontem foi essencial, pois nós não podemos resolver um conflito sem trazer para a mesa de negociação as duas partes envolvidas. Então existe essa tentativa de buscar a paz, mas nós vemos que os Estados Unidos, como o próprio Trump postou no Truth Social, querem se colocar mais como um intermediador do que, de fato, um garantidor. Eles querem que a Europa se coloque como garantidora, enquanto os Estados Unidos tomam essa posição mais de zelador, de intermediador, não querendo se envolver diretamente”, pontua Ana Carolina.
Na análise da internacionalista, a Europa deve entrar como financiadora, visto que um dos impasses do governo russo para o fim do conflito é a possível entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A Europa, então, agiria em duas frentes: apaziguando a Rússia e fortalecendo a Ucrânia militarmente. “A garantia dada pela Europa seria garantir essa possibilidade de a Ucrânia se defender sozinha.”
“Ao mesmo tempo em que nós temos o pedido do Putin de que a Ucrânia não entre para a Otan, essa não entrada deixa o país desprotegido. A Europa, como garantidora, surge primeiro nessa posição de financiadora, emprestando esse montante que a Ucrânia vai precisar para comprar os armamentos estadunidenses e também como garantidora no sentido de que não vão aceitar a Ucrânia na organização”, diz.
China
Para Ana Carolina, a fala recente de Mao Ning, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, celebrando as negociações sobre o fim do conflito, “é até um pouco vazia, no sentido de não existir a possibilidade de algum outro país falar que apoia a guerra abertamente”. “Esse posicionamento da China é importante, porém, como ele não vem apoiado por ações, até mesmo do governo chinês, seja no âmbito da ONU [Organização das Nações Unidas], seja bilateralmente com a Rússia ou com a Ucrânia, essa fala fica um pouco esvaziada de significado”, concluiu.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.