A 26ª Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Belo Horizonte injetou cerca de R$ 42,7 milhões na economia local em um único dia, segundo dados preliminares compilados pelo Grupo Diverso, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Belotur e o Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos-MG). Cada participante do evento gastou, em média, R$ 122 durante a atividade.
Considerando os turistas que permaneceram na capital por cerca de cinco dias, os gastos por visitante chegaram a R$ 482,26 por dia, incluindo despesas com hospedagem, alimentação e transporte. Embora os números ainda aguardem a oficialização da Prefeitura de BH (PBH), Maicon Chaves, presidente do Cellos, entidade organizadora, destaca a força da parada para a economia e o turismo da capital.
“É um cálculo altíssimo, em relação ao investimento público. Isso mostra que não há argumentos para dizer que essa parada, que essa manifestação, não tem interesse na cidade. Pelo contrário, devia ter acontecido em Belo Horizonte igual aconteceu em São Paulo e ser declarada patrimônio imaterial. É uma parada que mobiliza a economia, o setor hoteleiro, o turismo, e devolve para a cidade cerca de 100 vezes mais recurso do que recebeu”, avalia.
A causa é o que move o público
Realizada no dia 20 de julho, a parada teve como tema este ano Envelhecer Bem: Direito às Políticas Públicas do Bem Viver, ao Prazer e à Cidade e bateu recorde de público. Segundo o Cellos-MG, mais de 350 mil pessoas compareceram, mesmo após ataques da extrema direita.
A poucos dias do evento, uma ação judicial movida por vereadores do PL chegou a reduzir temporariamente o repasse da prefeitura de R$ 450 mil para R$ 100 mil. No entanto, a Justiça reverteu a decisão, autorizando o valor integral.
Maicon Chaves destaca que o engajamento do público vai além da festa, reforçando o caráter político da parada.
“67% das pessoas vêm à parada em apoio à pauta e à cidadania LGBT. Isso demarca que quase 70% das pessoas vêm não por causa do ‘show tal’, mas pelo ato em apoio à causa LGBT. Isso para nós é uma grande vitória”, alegra-se.
Diversidade no DNA
Os levantamentos preliminares foram coletados durante a parada, por meio de um formulário aplicado pelo Grupo Diverso UFMG, Belotur e Cellos-MG. Os dados indicam também que 62,5% dos participantes têm até 30 anos e que a maioria pertence às classes populares, com 61,6% declarando receber entre um e cinco salários mínimos.
Em termos de escolaridade, 57% possuem até o ensino médio, enquanto 43% têm ensino superior completo ou pós-graduação. Outro dado destacado por Maicon Chaves é o recorte racial: desde 2022, a Parada de BH se consolidou como majoritariamente negra, com 60,1% de pessoas que se autodeclararam pretas ou pardas.
Para a organização, essa representatividade deve ser refletida na prática, por meio da escolha de artistas, repertório e mensagens políticas. Um dia antes da manifestação, a primeira edição do Festival Fuzuê, no Parque Municipal, já reforçou essa proposta.
Lara Caetano, técnica de projetos do Cellos-MG, conta como a programação fortaleceu a energia do público.
“Eu acho que foi fantástico, porque a gente esperava que as pessoas pudessem estar um pouco mais cansadas, devido ao Festival Fuzuê”, explica.
O Parque Municipal é considerado um lugar histórico de resistência da população LGBTQIA+, o que também motivou a realização do evento no espaço.
Evento traz conforto e segurança
Os dados do Cellos apontam ainda que a Parada de 2025 foi considerada o evento mais seguro para a população LGBTQIA+ em BH, recebendo nota média de 8,1. Quase 95% dos entrevistados afirmaram que pretendem voltar no próximo ano.
Para Erick Gonçalves, psicólogo e técnico de projetos do Cellos-MG, o evento é mais do que uma manifestação: é um espaço de pertencimento e construção política.
“Para nós que somos LGBT, a parada é sempre um marco. Eu costumava dizer, quando me assumi, que era como se fosse uma um natal em família, com a reunião de muitos de nós, com vários marcadores sociais, que sofremos muitas violências e preconceitos”, afirma.
Para ele, o diferencial de uma manifestação como essa é o senso de coletividade, que permite que várias vozes e vivências ecoem em um mesmo lugar.
“A população é muito grande, são muitas pessoas, são muitas siglas. A comunidade abrange e acolhe muitas pessoas. O movimento tem que escutar todas essas vozes para que a voz individual vire também uma voz coletiva e, a partir da coletividade, a gente consiga tratar os nossos medos, preconceitos e aquilo que temos dentro da gente que não nos faz bem”, finaliza.