O ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foram indiciados nesta quarta-feira (20) pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. A partir do relatório da PF, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu 48 horas para que Jair Bolsonaro se manifeste em relação ao pedido de asilo político encontrado pela Polícia no celular do ex-presidente. Para Rafael Cortez, cientista político, o novo indiciamento do ex-presidente pode se transformar em um pedido de prisão preventiva.
“Mais uma vez, o Supremo, por meio das investigações da Polícia Federal, encontra evidências de que o ex-presidente, em alguns momentos, descumpre medidas cautelares impostas pelo próprio ministro Alexandre de Moraes. Esse é mais um desses elementos, que pode se traduzir, eventualmente, na prisão preventiva. O STF já deu a jurisprudência de que o descumprimento de medidas cautelares poderia levar a um status de prisão preventiva, então, a teia jurídica dos crimes eventualmente cometidos pelo ex-presidente e seu familiar vai ganhando volume”, afirmou Cortez em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
O analista afirma que os desdobramentos do relatório da PF irão impactar diretamente na eleição de 2026, não apenas para o ex-presidente, mas especialmente para o deputado Eduardo Bolsonaro. “Ele parece ter manifestado ou tem a pretensão de ser o nome representante do bolsonarismo em 2026. O custo do seu comportamento vem a curto prazo, do ponto de vista jurídico, e fica cada vez mais difícil imaginar um cenário em que seja crível que ele volte ao Brasil e tenha condições de disputar qualquer tipo de eleição em 2026”, diz.
Entre o material recuperado pela Polícia Federal no celular do ex-presidente, está uma troca de mensagem com o pastor Silas Malafaia em que o religioso chama Eduardo Bolsonaro de “babaca”, “inexperiente” e “idiota”. O conteúdo das mensagens veio à tona no fim desta quarta-feira (20). A PF também investiga o pastor, mas não o indiciou.
Nesta quinta-feira (21), Malafaia se manifestou nas redes sociais e teceu críticas a Alexandre de Moraes, afirmando que o ministro promove uma “perseguição religiosa”. Para o cientista político, é uma estratégia de recorrer a algum “dividendo político-eleitoral”.
“Os atores envolvidos mobilizam recursos de poder. No caso do pastor Silas Malafaia, obviamente, uma parte desse recurso de poder tem a ver com o seu papel de liderança de um grupo social importante, do ponto de vista quantitativo, um grupo social que dá origem a uma estratégia política. a tendência é que a gente tenha mais material para delimitar, para entender melhor essa estratégia, mas que parece fazer parte dessa espécie de tentativa de recolher algum dividendo político eleitoral”, avalia.
Risco de fuga
Para Cortez, a possível fuga do ex-presidente ainda não pôde ser confirmada pela Polícia Federal, mas nada impede que provas contundentes sejam encontradas. “Existem evidências um pouco indiretas, mas precisamos ver se a PF vai conseguir, de fato, encontrar elementos que comprovem, à luz da legalidade, a tentativa de fuga. Não foi por acaso que o ministro Alexandre Moraes, como uma das medidas cautelares, proibiu o ex-presidente Bolsonaro de contato com representações internacionais no Brasil, por já ter algum indício dessa possibilidade”, conclui.
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