Neste mês de agosto, o cinema cearense conquistou um grande avanço dentro do mercado audiovisual nacional e internacional. Por meio da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), o Governo do Estado lançou a Siará+, primeira plataforma de streaming dedicada exclusivamente à produção audiovisual cearense. Com assinatura gratuita e alcance global, a iniciativa se apresenta como um espaço privilegiado para a exibição de múltiplas linguagens, de profissionais de diferentes gerações e de narrativas que expressam a identidade e a diversidade cultural do estado.
A cerimônia de lançamento aconteceu na primeira semana do mês, no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, e foi marcada pela exibição de uma versão inédita e restaurada de Lua Cambará: Nas Escadarias do Palácio, com recuperação feita pelo Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque (MIS-CE). O evento também homenageou os 50 anos de carreira do cineasta Rosemberg Cariry, um dos nomes mais significativos da cinematografia brasileira, conhecido pela sensibilidade poética de suas produções. Durante sua fala, Cariry destacou a luta histórica por políticas públicas para o audiovisual no Nordeste e lembrou que o desejo de fazer cinema é um sonho que atravessa gerações, ganhando mais instrumentos nas últimas décadas para se tornar realidade.
O presidente da Associação Cearense de Produtoras de Audiovisual Independente (Ceavi) e realizador da Nigéria Filmes, Rogério Pires, avalia que o lançamento da plataforma pode ampliar a visibilidade das obras cearenses. “Primeiro que ajuda a aumentar o público. Hoje, pessoas que não têm acesso aos filmes porque não há TVs abertas que exibam nossas obras poderão acompanhar produções locais feitas pelos próprios cearenses”, destacou. O realizador reforçou ainda que os filmes independentes ganham força quando exibidos pela plataforma, que funcionará como vitrine para obras e produtores.
Construída pelo Cineteatro São Luiz, a iniciativa é uma política estadual que recebe apoio da Lei Paulo Gustavo (LPG), por meio de recursos destinados ao audiovisual, além do orçamento próprio do equipamento cultural. A secretária de Cultura do Ceará, Luisa Cela, ressaltou que a plataforma tem foco na produção estadual, entendendo a linguagem audiovisual como ferramenta estratégica para o desenvolvimento econômico do estado. “O investimento neste streaming faz parte do compromisso do Governo do Ceará em ampliar oportunidades de circulação de produtos audiovisuais cearenses, democratizar o acesso à nossa cultura e potencializar negócios no setor”, afirmou.

Desafios do setor e concorrência desleal
Questionado pelo BdF Ceará sobre os desafios enfrentados pelo audiovisual no estado, Pires apontou a ausência de um calendário de investimentos como o principal obstáculo. “O mercado audiovisual cearense não tem um calendário frequente de editais e chamadas”, explicou. Outro entrave, segundo ele, é a distribuição das produções, que enfrentam concorrência desleal com filmes estrangeiros de grande apelo comercial que ocupam as grades de TV e as salas de cinema em todo o mundo.
Catálogo diverso e identidade cultural
Para valorizar a memória, a identidade e a diversidade do estado, o catálogo da Siará+ é organizado em coleções temáticas: Memória e Identidade Cearense, Corpo, Cotidiano e Gênero, Ruralidades e Sertões Urbanos, Experimentações Visuais e Narrativas e Patrimônio, História e Consciência Social. Na plataforma é possível encontrar produções de nomes como Allan Deberton, Armando Praça, Amanda Pontes, Karim Aïnouz, Leonardo Mouramateus, Bárbara Cariry, Wolney Oliveira, Zelito Viana, Margarita Hernández e Pedro Diógenes, entre outros.
A curadoria, gestão do acervo e relacionamento com realizadores, distribuidoras e público ficam sob responsabilidade do Cineteatro São Luiz, por meio do seu Núcleo de Acervo e Difusão Audiovisual. O núcleo também será responsável pela moderação de conteúdo e pela ampliação contínua do catálogo.
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Integração e avanço nas políticas públicas
A Siará+ integra um conjunto de políticas públicas implementadas para fortalecer o audiovisual no Ceará. O catálogo já conta com títulos licenciados pelo Instituto Tamanduá Synapse Cultural, incluindo produções contempladas em diversas edições do Edital Ceará de Cinema e Audiovisual.
Além disso, está aberta até o próximo domingo (24) uma chamada pública que selecionará 30 curtas-metragens brasileiros produzidos entre 2020 e 2025, nos gêneros ficção, documentário e animação, para integrar o acervo permanente da plataforma e serem exibidos em uma mostra online especial.
De acordo com a diretora-presidente do Instituto Dragão do Mar, Rachel Gadelha, o streaming deve firmar parcerias com outros equipamentos culturais, mostras e festivais de cinema, ampliando o catálogo e elevando a visibilidade de obras emergentes e consolidadas, tanto regionalmente quanto em nível nacional.
Maíra Suspiro, da Secult-CE, reforçou que todas as ações da pasta buscam desenvolver e fortalecer o mercado cinematográfico cearense. “A Siará+ é mais uma importante política de valorização e um grande passo para colocar o Ceará em destaque na produção audiovisual independente no Brasil”, afirmou.
Formação de público e alcance educacional
Outro ponto importante da plataforma é a atenção ao público escolar e infantil. A Siará+ será uma das principais ferramentas de apoio ao projeto São Luiz Itinerante, que leva o audiovisual cearense e brasileiro a espaços não comerciais como escolas, universidades, cineclubes e associações culturais da capital e do interior. Com isso, a plataforma democratiza o acesso ao conteúdo e contribui para a formação de novos públicos e para o fortalecimento da cultura cinematográfica.
Pires reforça que a Siará+ tem potencial para estimular outras áreas do ecossistema do audiovisual, ao dar espaço para obras e produções independentes que podem colocar o mercado cearense na rota nacional. “A Siará+, essa plataforma de estima e força, faz com que a gente tenha um reconhecimento e uma valorização do cinema cearense. Isso com certeza estimula os produtores independentes, que agora poderão ver suas produções chegarem ao público cearense e de outros estados brasileiros”, concluiu.
Reconhecimento do cinema cearense
Na última semana, por meio das redes sociais, a Secult-CE revelou que há filme cearense inscrito na corrida pelo Oscar 2026. Anunciada na quarta-feira (13) pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA), a pré-lista de produções nacionais habilitadas a concorrer à indicação brasileira para a maior premiação do cinema mundial conta com o longa A praia do fim do Mundo, de Petrus Cariry.

A produção disputa a categoria de Melhor Filme Internacional e conta a história de Alice, uma jovem ambientalista, e de sua mãe Helena, doente, que vivem na cidade de Ciarema e enfrentam o avanço do mar que destrói casas e desabriga famílias. Alice quer ir embora, Helena quer permanecer em frente ao mar. No fim, mãe e filha encaram seus destinos. O filme foi realizado e finalizado com recursos da Lei Aldir Blanc, por meio do edital de apoio ao audiovisual cearense.
O anúncio oficial dos filmes brasileiros que representarão o país no Oscar acontecerá em 15 de setembro, a partir da escolha de uma comissão de seleção formada pela Academia, composta por 15 membros titulares.
Acesse a Siará+ em siaramais.com.br.
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