Dois ataques fizeram eclodir mais um episódio de conflitos na Colômbia. Segundo informações do governo colombiano, no final desta quinta-feira (21), um helicóptero militar foi atacado, e 12 policiais morreram no interior do estado de Antioquia. Ainda durante a noite, seis pessoas morreram em um atentado com explosivos contra uma base militar na cidade de Cali. Os dois casos fizeram o presidente Gustavo Petro convocar uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança e anunciar uma série de medidas.
A primeira delas é a mobilização das Forças Armadas na região da Cordilheira Ocidental com o objetivo de expandir a atuação dos militares em corredores usados por grupos armados. “Vamos fechar a passagem entre as diversas estruturas armadas que operam no sudoeste da Colômbia”, afirmou Petro.
A ideia é também manter o Posto de Comando Unificado (PMU) na região, que funciona como um centro de controle das forças de segurança e do governo para reunir informações em tempo real e coordenar ações das polícias em determinada região.
Em Cali
O governo aponta que, em Cali, os ataques foram realizados por “gangues narcotraficantes” com atuação internacional e com vinculação a grupos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Foram lançadas duas bombas cilíndricas contra a Base Aérea Militar Marco Fidel Suárez. Ao todo, oito pessoas foram presas nas operações policiais, e 60 ficaram feridas nos ataques.
“Estamos enfrentando máfias organizadas com conexões mexicanas, albanesas e italianas. Este não é um confronto político, mas uma luta pelo controle do narcotráfico “, disse o presidente.
O presidente relacionou os ataques às operações com a Frente Carlos Patiño, grupo dissidente das Farc que integra o Estado Maior Central (EMC), e disse que essas ações foram uma resposta contra a apreensão de mais de 250 mil cartuchos de munição feito pelas Forças Armadas em Cauca.
A vice-ministra da Defesa, Ana Catalina Cano, reforçou que há uma ligação também de outro grupo dissidente, a Segunda Marquetália, e o Clã do Golfo, organização de tráfico internacional. Ela afirmou que essas agrupações “são consideradas organizações terroristas, processadas em qualquer lugar do mundo por crimes contra a humanidade”.
A declaração levanta dúvidas sobre a continuidade dos diálogos, que foram estabelecidos nesta semana, entre o governo colombiano e o Clã do Golfo. As negociações começaram no Catar com o objetivo de estabelecer um cessar-fogo e limitar a atuação do grupo em território colombiano.
As prefeituras de Valle de Cauca e Cali ofereceram uma recompensa de 400 milhões de pesos (cerca de US$ 90 mil) por informações que possam indicar a autoria dos ataques.
Ainda que não tenha uma confirmação das autorias, a inteligência colombiana entende que a lógica segue um padrão da Frente Carlos Patiño, que costuma atacar instalações militares e policiais. Em março, foram oito ataques simultâneos contra diferentes instalações em Cauca. Já em junho, duas pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas em novos ataques no estado de Cauca.
Todo esse movimento, inclusive, ameaçou a realização da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 16), que ocorreu em Cali em 2024, próximo à região dos ataques.
Ataque a helicóptero
Já em Antioquia, o ataque contra o helicóptero militar foi vinculado ao EMC. Além dos 12 policiais mortos, outros oito ficaram feridos durante uma operação para fechar uma plantação de coca na região. O grupo utilizou drones para abater a aeronave do pelotão antinarcóticos da Polícia Nacional.
Já o ministro da Defesa, o general aposentado Pedro Sánchez, disse que os responsáveis pelo ataque são do Clã do Golfo. “Todas as forças policiais foram mobilizadas para garantir a retirada de pessoal terrestre, fornecer apoio aéreo e neutralizar os criminosos responsáveis. Eles não cederão ao terror. Nos levantamos e avançamos de mãos dadas com toda a Colômbia para desmantelar esses criminosos e proteger a vida do nosso povo”, afirmou.
Os ataques vêm na esteira de uma escalada de conflitos na Colômbia, que minaram os diálogos promovidos por Petro com as guerrilhas e grupos armados no país. Em janeiro, uma crise na região do Catatumbo levou ao deslocamento de mais de 40 mil pessoas em decorrência de conflitos entre o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das Farc.
As operações também acontecem dois meses depois de um ataque que matou o senador Miguel Uribe. Ele foi baleado durante um ato público em Bogotá. Os autores não foram identificados, mas há suspeitas sobre a participação de grupos criminosos.
Negociações de paz
O diálogo permanente com os grupos armados é uma das políticas implementadas por Petro desde o início do mandato dele, em 2022. O presidente transformou a “Paz Total” em uma política de Estado, a partir da aprovação da Lei nº 418, que firma o compromisso da Colômbia em manter contato para negociar o fim dos confrontos com os grupos armados.
Em 2023, o Estado colombiano e o ELN chegaram a assinar um cessar-fogo, dando continuidade ao processo de paz iniciado em 2016. Mas tensões com dois dos principais grupos guerrilheiros da Colômbia estremeceram os planos de paz do governo: o envolvimento do ELN no sequestro do pai de um famoso jogador de futebol colombiano e a saída, ainda que momentânea, do Estado Maior Central (EMC) das mesas de negociação.
Em fevereiro deste ano, autoridades da Colômbia denunciaram que as duas guerrilhas estavam violando o acordo de trégua firmado nas negociações de paz. Já o ELN acusa o Estado colombiano de sabotar o processo de paz. Hoje, as conversas entre o grupo guerrilheiro e o Executivo estão suspensas.