O mistério continua. O avião Boeing 757-200 da Força Aérea Americana que pousou em Porto Alegre na terça-feira (21), foi embora, via São Paulo, para destino incerto, na quinta-feira (23), dois dias depois. O que veio fazer? Qual o objetivo da viagem?
Ele saiu de Nova Jérsei, passou pela Flórida e Porto Rico, antes de pousar na capital gaúcha. Todo branco, sem identificação, usado para operações especiais, diplomáticas e pela inteligência dos Estados Unidos (CIA), além de militares de todas as forças. Pois é, muito estranho. Ninguém consegue uma explicação convincente, ainda mais, neste momento, de tensões nas relações dos EUA com o Brasil por causa do tarifaço nas exportações e intromissão no Judiciário, como exigências de liberdade para Bolsonaro do presidente Donald Trump.
O avião foi todo vistoriado pela Polícia Federal e por outras autoridades alfandegárias e, segundo informaram, nada foi encontrado de ilegal. O Ministério da Defesa do governo federal alega que sabia de tudo. A Embaixada Americana em Brasília – que tanto tem agredido o Brasil em postagens nas redes sociais contra o Judiciário brasileiro, chamando inclusive o ministro Alexandre de Moraes de tóxico no tratamento aos pedidos de Trump para o ex-presidente Bolsonaro – diz que se tratava de uma missão para trazer diplomatas e cargas para os consulados de Porto Alegre e São Paulo. Em Porto Alegre, o consulado não possui muitos funcionários. Precisava de um avião especial? Cheio de entrelinhas e de interrogações?
Os deputados do governo e da oposição também ficaram invocados com a situação. Fernanda Melchionna, Sâmia Bonfim e Glauber Rocha (todos do PSol) mandaram pedidos oficiais de explicações ao governo – ministérios da Defesa e dos Portos e Aeroportos. Foi prometido uma resposta em 30 dias. Até lá tudo isso vai sair do noticiário e o assunto já não interessará. Cairá no esquecimento. Será que ficaram por aqui alguns oficiais da CIA para dar uma olhada no ambiente, checar a situação, fazer contatos com a extrema direita e levar informações quentíssimas para o Departamento de Estado, chefiado por Marco Rubio, outro que não poupa o Brasil em declarações ofensivas e tem dado guarida e apoio às traições e lobbies de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do ditador João Batista Figueiredo, o último do regime militar (1964-1985)?
“Diante da escalada de tensões entre Brasil e EUA resultantes dos sucessivos ataques imperialistas à soberania brasileira, não podemos aceitar que uma aeronave militar estadunidense invada o espaço aéreo brasileiro sem os devidos protocolos legais ou transparência pública”, afirmou a deputada gaúcha Fernanda Melchionna. A oposição também chiou contra a chegada do avião sem maiores informações prévias e bradou contra a desorganização do governo.
Os documentos dos deputados federais exigem informações quanto a:
- justificativa oficial para a autorização de entrada da aeronave em espaço aéreo brasileiro;
- se houve solicitação formal do governo norte-americano para tal operação;
- natureza da missão da aeronave;
- quem eram os ocupantes da aeronave e qual a sua identificação oficial;
- se houve transporte ou desembarque de carga ou equipamentos.
Porto Alegre / São Paulo
O avião misterioso ficou duas horas em Porto Alegre e depois seguiu para São Paulo, onde chegou por volta das 22h. O pessoal que ficou aqui entregou documentação no aeroporto e no consulado americano na avenida Assis Brasil, bairro Passo da Areia. Buscando saber sua procedência e razão da viagem, a imprensa levantou dados bastante relevantes sobre este fato raro e incomum.
Conforme o site, a nomenclatura da aeronave é C32 B, um avião modificado, pertencente à Força Aérea dos EUA. Este é uma espécie de “coringa” da aviação militar daquele país, não sendo o único. Existem outros como ele, sempre de prontidão para a realização de missões em quaisquer pontos do planeta, servindo tanto à CIA quanto ao Departamento de Estado.
“Internamente, todos possuem um avançado sistema de comunicação e tanques de combustíveis extras, para que a sua autonomia de voo seja ampliada de modo significativo. Estes ficam no compartimento de carga dianteiro, garantindo que possa se manter no ar em percursos de mais de 11 mil quilômetros. Ou seja, mais de 4 mil quilômetros além dos Boeing 757 originais. Tem um sistema de reabastecimento em voo”, conforme o portal.
Eles têm ainda, entre outras particularidades, uma escada embutida junto à porta dianteira, para ser utilizada na hipótese de pouso em local onde não exista o suporte necessário. E um guincho no porão, que permite o deslocamento de bagagens para dentro e para fora com praticidade. Apelidado de “Gatekeeper” (porteiro), este tipo de avião oficialmente tem como principal missão proteger tanto embaixadas quanto “interesses” do governo estadunidense fora do seu território. Seriam usados em ações como retiradas de cidadãos americanos em nações em conflito e com risco iminente.
O próprio ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que estava tudo certo com a chegada do avião e que tinha, sim, conhecimento prévio do assunto. Só não falou para o público externo. Ele afirmou ainda que é usual este tipo de voo. A novidade é que veio em um momento de tensão e de rixas históricas entre os dois países. Mesmo assim, maiores explicações não foram dadas por nenhum órgão dos dois governos.
* Jornalista
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
