Em 22 de agosto é comemorado o Dia do Folclore, data em que são celebradas as tradições populares e a contação de histórias que mantêm vivos os saberes, mitos e crenças do Brasil. O podcast Pavulagem, criado pelo doutorando em Antropologia Social Maickson Serrão, busca, em cada episódio, preservar as memórias dos encantados – como o Curupira, a Matinta-Perêra e a Cobra-Grande –, personagens do folclore brasileiro “que a gente respeita, acredita, e que estão no nosso meio ali pra nós, povos da floresta”, conta Serrão.
“Na primeira temporada do podcast, eu conhecia todos os encantados e fui atrás desses contadores de histórias que eu já conhecia e sabia o que eles contavam. Já na segunda temporada, essas histórias foram chegando a mim por outras pessoas, porque a Amazônia é gigante, e apesar de eu conhecer algumas histórias, a gente tem encantados que são muito particulares de determinadas regiões”, relatou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta sexta-feira (22).
Ao captar novas narrativas, Serrão se desloca até os locais onde estão os contadores, como comunidades ribeirinhas. “Gravamos in loco e trazemos para o podcast com muito respeito, com muita valorização, porque é um presente. Esses contadores receberam essas histórias de geração em geração, e eles doam essas histórias. Alguns já partiram desta vida – ancestralizaram –, mas têm suas vozes imortalizadas no podcast.”
O doutorando, que também é escritor, ressalta a importância de manter o hábito da oralidade, pois ela carrega elementos impossíveis de reproduzir apenas na literatura, como o sotaque e as variações próprias de cada contador. O desejo de criar o podcast surgiu do esforço de imortalizar as histórias que ouvia desde criança, contadas por sua tia.
“Eu ia para a casa da minha tia, que era a melhor contadora de histórias, e voltava à noite para casa. Como não tínhamos energia elétrica na comunidade, eu voltava com muito medo, porque essas histórias despertam muito esse universo do medo, mas é um medo gostoso. Quando minha tia ancestralizou e não pude entrevistá-la, não havia nenhum registro. Então decidi, quando me formei jornalista, que precisava fazer alguma coisa para que essas histórias não se perdessem”, relembra.
Para Serrão, o podcast também é uma ferramenta de divulgação dessas narrativas, especialmente diante da Lei nº 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena. “Não vemos isso nas escolas, porque não há incentivo. Temos pouco material, às vezes os professores têm boa vontade, mas não encontram recursos que facilitem a aplicação da lei. Então, a gente também quer trazer resgate, amplificação e perpetuação, para que essas histórias possam ser trabalhadas nas nossas escolas. Os alunos do Brasil conhecem histórias da literatura internacional, mas precisam conhecer também as histórias da tradição oral amazônica, da tradição oral indígena e ribeirinha”, defende.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.