A pintura do mural de Aldo Locatelli localizada na Capela Nossa Senhora, no Morro do Sabiá, em Porto Alegre, será restaurada a partir do projeto Um Locatelli no Morro Sabiá: Patrimônio Cultural e Sustentabilidade. Tombada como patrimônio histórico do município, a obra é considerada um marco da memória cultural da cidade e integra o conjunto arquitetônico preservado pelo Colégio Anchieta.
Além da recuperação do mural, a proposta inclui intervenções estruturais na capela e ações de caráter educativo. Segundo o arquiteto responsável, Lucas Volpatto, uma das prioridades é a reforma do telhado. “A cobertura está diretamente relacionada à preservação da pintura, já que as infiltrações têm causado danos à obra”, explica.
O projeto prevê também uma caminhada patrimonial e ecológica, voltada para aproximar a comunidade da história do espaço, além de um evento cultural aberto ao público.

Capela e pintura mural
O terreno do Morro do Sabiá foi adquirido pelo Colégio Anchieta em 1950, com o objetivo de instalar a Casa da Juventude. A primeira edificação erguida foi a capela, que recebeu a pintura de Locatelli três anos depois. Situada no alto do morro, com vista para o rio Guaíba, a construção mescla elementos dos estilos neocolonial e neogótico, mantendo características originais como telhado de cerâmica, vitrais da via-sacra e campanário.
A obra representa Nossa Senhora em pé, descalça e envolta por um manto colorido, cercada por dez jovens. “Trata-se de uma figura terrena, sem auréola, rodeada por alunos anchietanos”, descreve Volpatto. A pintura foi encomendada pelo padre Henrique Pauquet S.J. em 1953, quando encontrou o artista em Porto Alegre, durante os trabalhos que realizava no Palácio Piratini.
De acordo com registros, o mural foi executado em apenas uma tarde e nunca passou por restauração. Medindo cerca de 1,50m por 2m, apresenta atualmente desbotamento, fissuras e perdas na camada pictórica.
Responsável pela coordenação técnica de conservação, a restauradora Anice Jaroczinski afirma que serão necessárias ações de limpeza, fixação e reintegração da pintura. “Nosso objetivo é recuperar a integridade da obra e devolver estabilidade ao conjunto”, afirma.
Equipe e financiamento
O trabalho é conduzido pela Studio1 Arquitetura, em parceria com a Cult Assessoria e Projetos Culturais. O cronograma prevê dez meses de execução, condicionados à captação de recursos.
O orçamento é de R$ 655 mil, viabilizados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). Pessoas físicas e jurídicas podem destinar parte do imposto devido para apoiar a iniciativa.
O acompanhamento do processo pode ser feito pelos perfis @cultprojetosculturais, @studio1arquitetura e @colegioanchietapoa no Instagram.
Empresas e pessoas físicas interessadas em apoiar a preservação e o uso sustentável do patrimônio cultural podem obter mais informações com a captadora Carolina Baumann pelos contatos: (51) 98418-4315 e [email protected]

Aldo Locatelli no Rio Grande do Sul
Nascido em 1915, em Bérgamo, na Itália, Aldo Locatelli chegou ao Rio Grande do Sul em 1948 para realizar afrescos na Catedral de Pelotas. Foi um dos fundadores da Escola de Belas Artes da cidade e, a partir de 1950, passou a residir em Porto Alegre, lecionando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Sua produção artística está presente em catedrais e igrejas de diversas cidades gaúchas, como Pelotas, Santa Maria, Novo Hamburgo, Porto Alegre e, de forma mais expressiva, em Caxias do Sul, onde pintou a Igreja de São Pelegrino.
Reconhecido principalmente por seus murais, Locatelli também deixou obras de cavalete, hoje preservadas em museus, instituições e coleções particulares. Faleceu em 1962, aos 47 anos, deixando como legado um dos conjuntos mais significativos da arte sacra no Brasil.