Entre os dias 21 e 23 de agosto de 2025, Porto Alegre sediou a 17ª Plenária Estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS). O encontro reuniu delegados, dirigentes e representantes de diferentes categorias para debater os principais desafios da classe trabalhadora e organizar o plano de lutas para o próximo período. A atividade também funcionou como etapa preparatória para a 17ª Plenária Nacional da CUT, marcada para outubro.
A abertura contou com uma mística conduzida pelo Coletivo de Formação da CUT-RS, que encenou a opressão sofrida pela classe trabalhadora e a importância da resistência coletiva.

Debate sobre desafios políticos e organizativos
A primeira mesa discutiu “Os desafios políticos e organizativos da classe trabalhadora”, com coordenação de Antônio Güntzel, secretário de Administração e Finanças da CUT-RS, e Isis Garcia, secretária de Combate ao Racismo.
O presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, enviou uma mensagem em vídeo, ressaltando que “o movimento sindical deve se preparar para os novos cenários que se apresentam no país”.
O senador Paulo Paim (PT-RS) também participou por vídeo, destacando “a necessidade de articulação entre sindicatos, parlamentares e movimentos sociais” diante dos retrocessos nas legislações trabalhista e previdenciária.
Claudir Nespolo, superintendente regional do Trabalho, apontou a importância de políticas públicas como o Bolsa Família e a qualificação profissional. Ele recebeu uma homenagem da CUT-RS pelo trabalho da Superintendência na defesa dos trabalhadores.

Economia, desigualdade e capital financeiro
A palestra do professor Ladislau Dowbor concentrou um dos principais momentos do encontro. Ele destacou que a produção do trabalho “é amplamente suficiente para uma vida decente para todo mundo”, mas que a desigualdade de acesso aos bens e serviços mantém milhões em situação de pobreza.
Segundo o professor, a produção mundial de alimentos seria suficiente para alimentar 12 a 14 bilhões de pessoas, diante de uma população global de 8 bilhões. Ele relacionou esses dados ao fato de 150 milhões de crianças menores de 5 anos apresentarem atraso no desenvolvimento devido à fome, afirmando que “não existe justificativa econômica para a fome no mundo”.
Sobre a concentração de riqueza, Dowbor explicou que “pela primeira vez na história da humanidade” há “o suficiente para assegurar a todos uma vida digna”. Ele citou que 3.028 bilionários concentram 16 trilhões de dólares, enquanto metade da população mundial possui três vezes menos.
O professor também criticou os juros praticados no Brasil, lembrando que “a taxa média para empresas é de 25% ao ano, enquanto na Europa varia entre 2,5% e 3,5%”. Para famílias, a média chega a 55% e no rotativo do cartão de crédito pode alcançar 450%.
O papel do conhecimento
Dowbor apontou que o conhecimento pode ser uma ferramenta central de transformação social, mas que os sistemas de patentes e direitos autorais limitam o acesso. Ele citou como exemplo a pandemia da covid-19, quando países em desenvolvimento foram impedidos de produzir vacinas.
Para ele, “o conhecimento não é um bem rival, pode ser compartilhado sem perda”, defendendo a democratização da produção científica e cultural como eixo estratégico para sociedades mais igualitárias.

Propostas para os sindicatos
Entre as propostas apresentadas, o professor defendeu a reorganização sindical com base em territórios, além de iniciativas como cinturões verdes urbano-rurais para gerar emprego e garantir segurança alimentar. Ele também citou experiências de redução da jornada de trabalho na França e na Dinamarca, afirmando que “ter uma vida mais tranquila e organizada aumenta radicalmente a produtividade da sociedade”.
Vozes dos delegados
As falas dos delegados reforçaram as análises apresentadas. Catiane Leite Nunes, metalúrgica de Porto Alegre, comentou sobre a falta de acesso da população ao debate econômico. “Nós não temos! No Brasil 90% da população é leiga nesse assunto da economia, por isso é iludida”, disse. Ela também destacou os impactos da crise econômica sobre as mulheres, especialmente as mães solo.

Plano de lutas e próximos passos
O plano de lutas da CUT-RS foi construído a partir das propostas apresentadas durante o evento e aprovado por unanimidade. Também houve recomposição da direção estadual, ampliando a representatividade regional e setorial.
A plenária encerrou reafirmando a necessidade de unidade e resistência diante dos ataques aos direitos sociais e trabalhistas. Os delegados eleitos representarão o Rio Grande do Sul na 17ª Plenária Nacional da CUT, em outubro.