O Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual e Identidade de Gênero de Minas Gerais (Cellos-MG), diversas lideranças populares, parlamentares e outros coletivos denunciaram, nesta semana, o descaso do governo Romeu Zema (Novo) em relação à 4ª Conferência Estadual LGBTQIA+, marcada para os dias 30 e 31 de agosto, em Belo Horizonte.
Uma campanha nas redes sociais reuniu mais de 180 assinaturas de apoio à nota de repúdio que aponta negligência, falta de estrutura e um “projeto político de invisibilização” por parte do executivo estadual.
“Ele [Zema] quer proibir que a gente faça uma discussão qualificada, porque ele sabe o resultado disso. O resultado é: cadê a política LGBT, Romeu Zema? Ele tem que responder isso. E, se não responder para a gente lá na conferência, vai responder de forma judicial”, apontou Maicon Chaves, presidente do Cellos-MG, em entrevista ao Brasil de Fato MG.
Conferência sem recursos garantidos
O principal alvo da denúncia é o fato de que o governo de Minas negou um recurso de R$ 300 mil destinado pela deputada estadual Bella Gonçalves (Psol) via emenda parlamentar para o evento. Segundo os organizadores, a ausência do repasse inviabilizou a realização da conferência em formato totalmente presencial, como ocorreu nas edições anteriores.
“Estamos aqui fazendo uma reunião virtual porque, em algum momento, não houve recurso para fazermos tudo isso com mais dias, presencialmente, como sempre foi. Trata-se de uma questão estrutural e de uma opção política do governo do estado de Minas Gerais”, afirmou Chaves, em vídeo publicado no dia 14 de agosto, durante a leitura do regimento interno da conferência.
“Tecnologia de apagamento”
De acordo com o presidente do Cellos-MG, a postura do governo Zema não se limita à desorganização. Para ele, há um projeto deliberado de invisibilização da pauta LGBTQIA+ em Minas Gerais.
“Nós ficamos 10 anos sem uma conferência e merecemos um espaço digno. O governo pediu que buscássemos emendas parlamentares, quando a obrigação é do próprio Estado. Não se trata de favor, mas de direito. Ao negar o orçamento, Zema demonstra uma tecnologia de apagamento da nossa população. Se não existimos no orçamento, não existimos na política pública”, afirmou.
Reações políticas
A deputada Bella Gonçalves reforçou, nas redes sociais, que o evento só acontece pela força dos movimentos sociais.
“A conferência acontecerá pela força do movimento social, apesar do descaso do Estado que se negou a aplicar recursos dignos e também os que destinamos via emenda parlamentar. Mas a gente se organiza e vai pra cima”, disse.
Já o vereador de Belo Horizonte Pedro Patrus (PT) questionou se a situação seria de fato financeira. “Será mesmo que é falta de recursos ou é Zema provando, mais uma vez, que não respeita as pautas dos direitos humanos?”, provocou.
O que está em jogo
Há sete anos Minas Gerais não promove um espaço desse porte para debater políticas públicas voltadas à população LGBTQIA+, segundo o Cellos-MG. A 4ª Conferência Estadual integra o processo que reúne propostas municipais e estaduais, consolidadas depois em âmbito nacional.
O encontro está marcado para os dias 30 e 31 de agosto de 2025, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. A expectativa é de que, apesar das dificuldades, o movimento social assegure a realização da etapa estadual e leve propostas para a construção do Plano Nacional LGBTQIA+.
O encontro também vai definir prioridades e eleger as pessoas delegadas que representarão o estado na etapa nacional, que acontecerá em Brasília entre os dias 21 e 25 de outubro.
O outro lado
O Brasil de Fato MG entrou em contato com o governo de Minas para comentar sobre as denúncias. A reportagem será atualizada, caso haja um posicionamento.