Na abertura da reunião ministerial realizada nesta terça-feira (26), no Palácio do Planalto, em Brasília, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enviou uma série de mensagens às autoridades estadunidenses, ao comentar o tarifaço de 50% aos produtos brasileiros, principal pauta do encontro.
“A posição do governo dos Estados Unidos, que tem agido como se fosse o imperador do planeta Terra, é uma coisa descabida”, declarou Lula, que ainda comentou publicações recentes do presidente estadunidense, Donald Trump, em que ele ameaça os países que prejudicarem as big techs norte-americanas.
“Nós somos um país soberano, nós temos uma Constituição, nós temos uma legislação e quem quiser entrar nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo, nas nossas florestas, tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação”, disse o presidente aos ministros.
Lula reafirmou a disposição do país em dialogar, mas exigiu “igualdade de condições”. “O que não estamos dispostos é sermos tratados como se fosse subalternos. Isso nós não aceitamos de ninguém”, afirmou. “Nós aceitamos relações cordiais com o mundo inteiro, mas não aceitamos desaforo e ofensas, nem petulância de ninguém. Se a gente gostasse de imperador, a gente não tinha acabado com o império. Se a gente gostasse de imperador, o Brasil ainda seria monarquia”, declarou o mandatário.
O presidente disse ainda que o Brasil seguirá buscando proteger a economia e celebrou a missão de alto nível que parte para o México nesta quinta-feira (28), liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), para dialogar sobre o apoio bilateral no enfrentamento às tarifas.
“Eu conversei com a Cláudia [Sheinbaum, presidente do México] e disse para ela que eu ia mandar o meu vice-presidente da República e alguns ministros e empresários para que a gente possa descobrir o potencial de relação que tem entre México e Brasil. Essa vai ser um uma viagem muito importante e eu estou muito certo que será uma viagem de sucesso”, destacou o presidente. A missão ainda contará com os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Planejamento, Simone Tebet, além de empresários brasileiros.
Traidores da pátria
Lula qualificou a atuação da família Bolsonaro como uma das “maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus”, se referindo à articulação levada adiante pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), financiada pelo pai dele, o ex-presidente Jair Bolsonaro, para instigar o governo dos Estados Unidos a aplicarem sanções ao Brasil.
“O que está acontecendo hoje no Brasil com a família do ex-presidente e com o comportamento do filho dele nos Estados Unidos é possivelmente uma das maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus. Não existe nada que possa ser mais grave do que uma família inteira ter um filho custeado pela família, um cidadão que já deveria ter sido expulso da Câmara dos Deputados, insuflando, com mentiras e com hipocrisias, outro Estado contra o Estado nacional do Brasil. Isso é inexplicável”, declarou.
Governança global
Na fala inaugural, o presidente Lula comentou ainda os conflitos armados ao redor do mundo e disse esperar o fim próximo da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Todo mundo sabe que essa guerra está para chegar no final. Ou seja, eu acho que tanto o presidente [Vladmir] Putin [, da Rússia,] quanto o presidente [Volodymyr] Zelensky [, da Ucrânia], que já sabe o limite de onde vai essa guerra, a Europa já sabe o limite, o [Donald] Trump já sabe o limite. Então eu acho que estão apenas aguardando o momento em que eles tenham coragem de anunciar o fim dessa guerra.”
Lula voltou a qualificar as operações de Israel em Gaza como um “genocídio” e criticou a falta de ação da comunidade internacional para parar o massacre. “Temos a continuidade do genocídio na Faixa de Gaza. Não para, todo dia tem uma novidade, todo dia mais gente morre, todo dia crianças que estão com fome aparecem na mídia, crianças esqueléticas atrás de comida, e são assassinadas como se estivessem em guerra. São assassinadas como se fossem do Hamas”, destacou.
Ele voltou a destacar a necessidade de mudanças na governança global. “E vocês percebem que a fragilidade do mundo é tão grande, a fragilidade da governança. Ninguém toma atitude. Ou seja, é por isso que nós estamos há muito tempo reivindicando esta questão de mudança na governança da ONU, para que tenha alguém que tenha interferência de parar com um genocídio como esse, de parar com uma guerra, de evitar uma guerra, coisa que nós não temos hoje”, disse o presidente.