Uma pesquisa realizada pela consultoria Management & Fit revela que 73% dos moradores de Buenos Aires consideram o suposto caso de corrupção entre a Agência Nacional de Deficiência (ANDIS) e o governo de Javier Milei como “grave” ou “muito grave”. A preocupação é significativa inclusive entre os eleitores de La Libertad Avanza, partido de Milei, o que pode ser decisivo nas próximas eleições legislativas e regionais.
Segundo a pesquisa, realizada entre os dias 25 e 26 de agosto, 94,5% dos moradores de Buenos Aires têm conhecimento do escândalo de corrupção e 73,2% o consideram “muito grave” ou “relativamente grave”.
O estudo aponta ainda que há um impacto significativo do escândalo entre os próprios eleitores de Milei: 37% dos que apoiam o defensor da motosserra também veem o assunto como algo sério.
Os consultores da Management & Fit alertam que a situação é grave, pois é um percentual alto a se considerar em uma eleição polarizada.
Para 60% dos entrevistados, a responsabilidade sobre o escândalo de corrupção é do governo La Libertad Avanza (LLA) e da irmã do presidente, Karina Milei, secretária-geral da Presidência.
Da mesma forma, 59,2% dos entrevistados acreditam que as gravações de áudio são verdadeiras e revelam “uma rede de corrupção dentro da administração”.
Neste cenário, os entrevistados exigem respostas do governo: 81% dos entrevistados acreditam que o presidente Javier Milei deve dar uma resposta pública e, desses, 61,3% exigem que ele o faça com urgência.
Nesta quarta-feira (27), Milei foi atacado com pedras e garrafas por manifestantes durante uma carreata organizada pelo partido do qual faz parte, na cidade de Lomas de Zamora, ao sul da Grande Buenos Aires. Segundo o G1, imagens que circulam nas redes sociais mostram Milei acenando para as pessoas na caçamba de uma picape, quando começa um tumulto.
O presidente estava acompanhado do deputado José Luis Espert, um dos principais candidatos às eleições legislativas de outubro. De acordo com o porta-voz do governo, não houve feridos.
Eleições Argentinas
Nesta quarta-feira (27), tem início a campanha para as eleições de meio de mandato na Argentina. No próximo domingo, 31 de agosto, ocorrem as eleições na cidade de Corrientes, para legislativo e executivo. O governo e todas as cadeiras da Câmara Baixa e Alta estão em disputa.
No domingo seguinte, 7 de setembro, a eleição vai ocorrer na província de Buenos Aires, para o legislativo. E em 26 de outubro ocorrem as eleições nacionais de meio de mandato, em que serão eleitos parte dos deputados das câmaras alta e baixa do Congresso: 24 dos 72 senadores e 127 dos 257 deputados.
O caso de suborno da ANDIS
O vazamento de gravações de áudio atribuídas a Diego Spagnuolo, ex-diretor da ANDIS, deu origem ao “Caso Spagnuolo”. As gravações, que analistas e opositores atribuem ao então funcionário, revelam uma suposta rede de corrupção e exigências de propina de provedores de serviços de assistência a pessoas com deficiência.
O dinheiro, segundo as gravações de áudio, era destinado à secretária-geral da Presidência, Karina Milei — irmã do presidente — e sua equipe. Spagnuolo falou de quantias significativas de dinheiro, afirmando que “Karina recebe 3% e 1% vai para a operação”.
O suposto mecanismo envolvia a farmácia Suizo Argentina, ligada a Eduardo “Lule” Menem (primo do presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem), mencionada como beneficiária e protetora do esquema. Spagnuolo chegou a afirmar ter alertado o presidente Javier Milei sobre o roubo.
A resposta do governo incluiu a demissão de Spagnuolo e a nomeação de Alejandro Vilches como auditor da ANDIS, encarregado de conduzir uma auditoria completa na agência.
O advogado Gregorio Dalbón, defendor da ex-presidente Cristina Kirchner, entrou com uma queixa criminal contra Milei, Karina Milei, Eduardo “Lule” Menem, o próprio Spagnuolo e o dono da Farmácia Suizo Argentina, Eduardo Kovalivker, por crimes como fraude, estelionato, associação criminosa e suborno.
Operações de busca e apreensão ordenadas pela Justiça argentina apreenderam aproximadamente US$ 200 mil de Kovalivker, além de dois celulares e uma máquina de contagem de notas de Spagnuolo.
Além das gravações de áudio, investigações jornalísticas revelaram que a Farmácia Suizo Argentina fechou acordos multimilionários com ministérios como Segurança e Defesa e ganhou um contrato de mais de 15 bilhões de pesos para o Hospital Posadas, que apresentava inúmeras irregularidades.
Com informações da teleSur