O Ministério da Saúde de Gaza registrou 10 mortes “devido à fome e à desnutrição” nas últimas 24 horas anteriores a esta quarta-feira (27), incluindo duas crianças. Com isso, o total de mortes relacionadas à fome chega a 313, sendo 119, crianças.
As forças israelenses mataram 37 palestinos desde o amanhecer deste dia, incluindo oito que aguardavam ajuda. O aumento do número de palestinos mortos pala fome induzida por Israel em Gaza ocorre paralelamente a Tel Aviv “exigir a retratação” de um relatório da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), uma autoridade apoiada pela ONU, que declarou que há fome em Gaza.
O repórter da rede Al Jazeera na Faixa de Gaza Tareq Abu Azzoum afirma que muitos pais e mães palestinos vêm pulando refeições para impedir que seus filhos morram de fome. A comida que entra no enclave é pouca, desorganizada e desprotegida.
“As entregas são frequentemente saqueadas por multidões famintas e gangues armadas que se aproveitam da quebra da lei e da ordem. Israel está sistematicamente forçando motoristas de caminhão de ajuda a seguir rotas específicas que os expõem a saques. Os armazéns da ONU estão bastante vazios porque os caminhões de ajuda não estão chegando em segurança para descarregar caixas de alimentos”, reporta ele.
“Por outro lado, com base no que podemos ver em terra, Israel está permitindo que um grande número de caminhões comerciais acessem Gaza para posteriormente inundar os mercados locais. Sabemos que esses caminhões comerciais são fortemente protegidos por alguns agentes de segurança, enquanto os caminhões de ajuda humanitária não foram protegidos. Isso, como resultado, dá à comunidade internacional a percepção de que os mercados de Gaza estão cheios de produtos. Mas as pessoas estão passando por enormes dificuldades financeiras, o que as impede de comprar esses produtos.”
“É por isso que continuamos a ver milhares de pessoas fazendo viagens difíceis até os controversos centros de ajuda humanitária no centro e sul de Gaza. É por isso que continuamos a ver mortes por desnutrição grave diariamente”, completa Tareq Abu Azzoum.
Em Nova York, a CEO da Save the Children International, Inger Ashing, disse ao Conselho de Segurança da ONU que as clínicas da ONG em Gaza “estão sobrecarregadas pela necessidade, com todos os bancos lotados de crianças desnutridas e suas mães, mas nossas clínicas estão quase silenciosas agora. As crianças não têm forças para falar ou mesmo gritar de agonia”.
“Elas jazem lá, emaciadas, literalmente definhando — seus pequenos corpos dominados pela fome e pela doença, os suprimentos médicos e nutricionais especializados de que precisam praticamente esgotados. A poucos quilômetros de distância, um mar de suprimentos, milhares e milhares de caminhões de itens vitais, todos bloqueados”, disse Ashing.
Ela relata que, nas últimas semanas, cada vez mais crianças têm compartilhado que desejam estar mortas. “Uma criança escreveu: ‘Eu gostaria de estar no céu, onde minha mãe está. No céu, há amor. Há comida e água.'”
Israel nega fome
Israel exige retratação da IPC (autoridade apoiada pela ONU) sobre o relatório divulgado na última sexta-feira (22), que declara oficialmente fome em Gaza, alegando informações falsas e politização. A ONU declarou estado de fome em Gaza devido à obstrução de ajuda humanitária por Israel.
A IPC afirma que a fome afeta meio milhão de pessoas e pode se espalhar, já que Israel restringe a entrada de ajuda em Gaza. Netanyahu nega as conclusões da IPC, mas a agência é defendida como padrão de referência. Calcula-se que para alimentar os cerca de 2,4 milhões de palestinos em Gaza, seria necessária a entrada de 600 caminhões por dia. Israel, no entanto, permite a entrada de menos de cem.
Israel ainda proíbe a entrada de 430 itens alimentícios, como ovos, carne vermelha, aves, peixes, queijos, laticínios, frutas, vegetais, suplementos nutricionais, nozes e outros suplementos necessários para gestantes e pacientes.