Apesar de mais de 40% da população ainda não compreender o que significa o termo “primeira infância”, como mostra um estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o governo Lula parece ter entendido a importância de investir nessa fase da vida.
Pela primeira vez, a pobreza na primeira infância caiu de 82% para 1,1% no Brasil. E essa redução, que praticamente erradicou o número de crianças de 0 a 6 anos com renda familiar mensal per capita menor que R$ 218, se deve ao Bolsa Família, retomado por essa gestão em 2023.
Desde novembro de 2024, famílias com crianças nessa faixa etária passaram a receber um benefício adicional de R$ 150, o chamado Benefício Primeira Infância (BPI). Isso significou uma transferência de R$ 1,18 bilhão de reais no mês de agosto de 2025, por exemplo, para 8,44 milhões de crianças.
Em contrapartida, as famílias devem manter a carteira de vacinação atualizada, acompanhar peso e altura das crianças e assegurar a frequência mínima de 60% na escola para crianças de quatro a seis anos.
Priorizar meninos e meninas nos primeiros anos de vida é compreender a vida numa amplitude maior e saber que todo investimento feito nessa fase do desenvolvimento tem reflexos positivos ao longo de toda a vida. Para um governo, pensar nessa lógica é investir no futuro do Brasil.
É claro que ainda há muito a fazer. A presença de crianças de até três anos na Educação Infantil (41,2% das atendidas no país) ainda carece de atenção, com mais de 2,3 milhões de crianças sem acesso à creche, número distante da meta de 50% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024. Essa desigualdade se aprofunda quando olhamos os dados do Todos Pela Educação: apenas 30% das crianças mais pobres são atendidas, enquanto entre as mais ricas a taxa chega a 60%.
A percepção da população em geral sobre as necessidades da criança pequena para um pleno desenvolvimento também é um desafio. Ainda citando o estudo da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, apenas 3% dos cuidadores entendem que brincar é algo importante nesses primeiros anos de vida.
Compreender a primeira infância é essencial para que, enquanto nação, possamos permitir que crianças vivam e que dados como os do Atlas da Violência de 2025, que mostram que os homicídios de bebês e crianças de 0 a 4 anos cresceram 15,6% em 2023, não se repitam.
Como mãe, pesquisadora das infâncias e jornalista, observar esses dados em conjunto é parafrasear Chico Buarque: quando nasce um rebento no Brasil, parece que nunca é o momento dele rebentar. Já vai nascendo com cara de fome e a gente nem tem nome pra dar. Mas chegou o momento de mudar esse cenário e fazer valer a prioridade absoluta dos nossos meninos e meninas.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.