Imagens obtidas com exclusividade pelo g1 mostram policiais militares atirando contra um motoboy durante a Operação Escudo na Baixada Santista (SP), em 30 de agosto de 2023. Evandro Alves da Silva estava nu dentro do banheiro de um ponto de apoio para mototaxistas no Morro José Menino, em Santos. Sob tiros, Silva se jogou pela janela e caiu de uma altura de sete metros.
Em depoimentos, os policiais militares do 5° Batalhão de Ações Especiais (Baep) afirmaram que Evandro estava armado e que chegaram até o motoboy após avistarem uma suposta fuga de suspeitos. As imagens corporais dos policiais, no entanto, não confirmam os relatos. A arma que supostamente estaria com a vítima não foi encontrada.
“Eu achava que eram os motoboys. Quando eu abri a cortina, o policial estava com a calibre 12 apoiada na janela, e ele me deu um tiro. Eu levantei a mão, e ele disparou e pegou no meu peito”, disse Evandro ao g1. “Na hora, o ato não foi pensando em fugir. Pensei na minha esposa e na minha filha. Eu pensei: ‘Elas não vão me ver no caixão com caixão lacrado’.”
No total, Evandro sofreu fraturas em oito costelas, perdeu o baço e parte do pulmão, onde permanece uma bala alojada. O motoboy ficou 45 dias internado, dos quais 23 permaneceu em coma. “Hoje eu tenho muita falta de ar. Tenho umas crises que todo mundo fala para mim que é crise de pânico. Eu nunca tive isso, sempre treinei, sempre gostei de atividade física, andava de skate e surfava”, disse.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que o inquérito policial foi concluído e aguarda a manifestação do Judiciário para definir as medidas cabíveis em relação aos agentes. Esse é o único caso da Operação Escudo que segue em aberto, à espera de uma decisão do Ministério Público de São Paulo.
Até janeiro deste ano, o MPSP arquivou 17 das 22 investigações que apuram as mortes provocadas por policiais militares na Operação Escudo, segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Marcada por denúncias de violações a direitos, a operação ocorreu entre 28 de julho e 5 de setembro de 2023 como resposta ao assassinato do soldado da Rota Patrick Bastos Reis na noite de 27 de julho de 2023 no Guarujá. Nesse período, foram mortas 28 pessoas.
Depois, a atuação voltou com o nome de Operação Verão, entre 18 de dezembro do ano passado e 1º de abril. Nesta segunda fase, as ações foram intensificadas após a morte do sargento Samuel Wesley Cosmo, membro da Rota, em 3 de fevereiro. Entre esta data e o fim da operação, a PM matou 56 pessoas.
Durante a segunda fase da operação, o secretário de Segurança Pública de São Paulo (SSP), Guilherme Derrite, afirmou que a operação ocorreu sem “nenhum excesso” por parte das forças policiais. “Nenhum órgão correcional das polícias recebeu qualquer denúncia, informação ou relato oficial de abuso de autoridade das forças policiais. (…) A gente não pode, a partir de relato informal, instalar procedimento. Por isso, não reconheço nenhum excesso”, disse. Depois, afirmou que desconhecia o número de mortos. “Eu nem sabia que eram 56, eu não faço essa conta.”
No total, foram 84 vítimas das operações Escudo e Verão, entre julho de 2023 e abril de 2024. Nesse contexto, a operação foi considerada a mais sangrenta da polícia paulista desde o massacre do Carandiru, quando 111 homens foram mortos durante a invasão da polícia na Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992.