No mês do Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio, o neuropsicólogo e escritor Eduardo Shinyashiki alerta para os impactos da pressão por produtividade e da comparação nas redes sociais sobre a saúde mental dos jovens. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2024, mostram que o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
“Se imaginarmos que nós estamos falando de uma faixa [etária] que é o nosso futuro, é o futuro desse planeta, desse mundo. Se estivermos pensando que 700 mil pessoas estão morrendo todo ano… O ponto é que, quando falamos do suicídio, significa que eu perdi o significado, o sentido pra continuar vivendo”, indica, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, realizada nesta segunda-feira (1º).
Segundo ele, esse processo muitas vezes tem origem em experiências de desamor, desamparo e críticas constantes, que alimentam sentimentos de inadequação. “Eu passo a ter três vírus na minha vida, na minha mentalidade: quem eu sou não é importante; não adianta pedir porque eu não vou receber; e, por mais que eu faça, não é bom o suficiente. Quando isso acontece, eu começo a me autoexcluir, a me autoimpor a solidão. É o momento em que eu começo a perder o sentido e o significado. É nesse momento que o suicídio entra como uma alternativa”, explica.
Redes sociais e exigência de perfeição
As redes sociais, segundo Shinyashiki, intensificam a sensação de inadequação. “Entramos nas redes sociais e começamos a ver algo que parece que eu tenho que ser para viver essa vida que aparece na rede social, que muitas vezes é ‘fake’ [falso, em inglês]. Estamos vivendo padrões que são externos e, muitas vezes, eu não paro para resgatar essa conexão comigo”, aponta.
Ele chama esse fenômeno de “síndrome do sapato apertado”: a busca de se encaixar em lugares e situações que não cabem na própria autenticidade. “Eu entro dentro de um relacionamento, e ele é tóxico. Mas eu acredito que ele vai se tornar ótimo. Eu entro dentro de uma empresa, e o trabalho é horrível. As pessoas não me valorizam, as pessoas não me reconhecem, mas eu fico tentando me encaixar dentro de um espaço que não é o meu”, exemplifica.
Caminhos de reconexão
Em seu livro O Caminho da Originalidade, o neuropsicólogo propõe práticas simples de autoconhecimento e valorização pessoal. Entre elas, ele reforça a importância de pedir ajuda. “A primeira coisa, quando estivermos falando do Setembro Amarelo, é: peça e se dê aquilo que você precisa. Às vezes, a ação mais transformadora de quem está pensando em tirar a própria vida é o CVV [Centro de Valorização da Vida] [no número] 188. É esse ato de amor, de poder pedir e nos darmos a ajuda que precisamos”, aconselha.
Shinyashiki destaca três pilares: autoestima, autoconfiança e inteligência emocional. “Autoestima é aprender a se dar valor. Autoconfiança é aprender a confiar em nós. Inteligência emocional é parar de deixar que o medo tome a decisão. (…) Não se impõe viver a vida desprotegido, sozinho, isolado”, acrescenta.
Peça ajuda
Se você está passando por um momento difícil, procure ajuda. O CVV realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio gratuitamente pelo telefone 188 ou pelo site cvv.org.br, 24 horas por dia.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.