O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado, divulgado nesta terça-feira (2), representa uma desaceleração em relação ao trimestre anterior, mas ainda assim indica expansão da economia, que atingiu um recorde em relação ao início da série histórica, em 1996.
Para o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), o dado já era esperado, sobretudo após a super safra agrícola registrada no início do ano. “Já era esperada uma desaceleração do crescimento da economia porque não haveria, no segundo trimestre de 2025, a repetição daquele número exuberante da agropecuária no primeiro trimestre”, afirmou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Oreiro destaca que a expansão foi puxada principalmente pelo consumo das famílias, que avançou 0,5%, e pelo setor externo, com exportações em alta de 0,7% e importações em queda de 2,9%. “O comportamento do consumo das famílias (…) teve crescimento razoável, exatamente devido a (…) um mercado de trabalho aquecido, com a taxa de desemprego na sua mínima histórica e temos as políticas de transferência de renda. É isso que está sustentando o consumo”, explica.
Segundo ele, o dado também rebate críticas de que haveria um aumento exagerado dos gastos públicos. “Essa ideia de que está ocorrendo uma ‘gastança’ do governo não é verdade. Os números mostram que o consumo do governo caiu no segundo trimestre de 2025 em 0,5%”, destaca.
Investimentos em queda e indústria em dificuldades
Para o professor, o ponto mais preocupante está nos investimentos, que recuaram 2,2% no período. “Isso aqui certamente já é o efeito dos juros elevados, que ficaram mais elevados desde dezembro do ano passado. Lembrando que nós tivemos cinco aumentos consecutivos da taxa Selic, que alcançou 15%, e certamente que a formação bruta de capital fixo, o investimento, é extremamente sensível às variações da taxa de juros. E isso é muito ruim”, avalia.
Oreiro alerta que a queda afeta não apenas a expansão produtiva, mas também o potencial de crescimento futuro. “Nós não conseguimos manter um crescimento na faixa de 3% com o investimento que temos hoje. Os dados do IBGE mostraram que a nossa taxa de investimento está em 16,8%. O Brasil tinha que estar investindo 21%, 22% do PIB. Sem isso, não conseguimos manter um crescimento robusto de 3% a 3,5% no médio e longo prazo sem gerar pressões inflacionárias”, pontua.
Outra questão ressaltada é o desempenho desigual entre os setores. A indústria de transformação, considerada o “filé mignon” do setor, segundo o economista, recuou 0,5%. Já a indústria extrativa foi o destaque, puxada por antecipações de compras ligadas ao tarifaço implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil.
Para Oreiro, essa dinâmica reforça o problema da desindustrialização. “Enquanto a indústria de transformação continua patinando, ela vem crescendo menos que o PIB. A desindustrialização, no fundo, é isso. Não é quando a indústria encolhe em termos absolutos. Basta que ela cresça menos que o resto da economia”, ressalta.
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