O presidente argentino, Javier Milei, terá, neste fim de semana, seu mandato testado nas urnas com as eleições legislativas da província de Buenos Aires. O pleito ocorre em meio a um escândalo de corrupção envolvendo a irmã dele e aos piores índices de aprovação do governo. O mandatário extremista, no entanto, não deve permanecer na Argentina durante as eleições, pois viajará a Las Vegas, nos Estados Unidos, para assistir a um show de sua ex-namorada.
Será a 11ª ida de Milei aos Estados Unidos durante um ano e meio de mandato. A viagem foi divulgada pela própria ex-namorada, Fátima Flórez, vedete que se apresentará no final de semana na cidade estadunidense. O presidente estará acompanhado do ministro da Economia, Luis Caputo, mas não da secretária-geral da Presidência argentina, Karina Milei, irmã dele, que está envolvida em um escândalo de corrupção que vem atingindo em cheio a administração federal.
A Justiça argentina ordenou, nesta segunda-feira (1º), o fim da divulgação de áudios de Karina Milei “gravados ilegalmente” e publicados pela imprensa, o que o governo chamou de “operação de inteligência ilegal”. A medida responde a um pedido do Executivo contra o material vazado pela imprensa na sexta-feira, no qual Karina Milei afirma: “Não podemos entrar na briga entre nós. Nós precisamos estar unidos”.

O restante do conteúdo da gravação, supostamente de 50 minutos, é desconhecido publicamente. O governo assegura que Karina Milei foi gravada “ilegalmente na Casa Rosada”, sede do Executivo, informou no X o porta-voz presidencial, Manuel Adorni. A ordem judicial exige “o cessar da divulgação unicamente dos áudios gravados na Casa do Governo” e atribuídos a Karina Milei, “por qualquer meio”.
Outros áudios
O caso soma-se ao escândalo após a divulgação, em 19 de agosto, de outros áudios nos quais o então titular da Agência de Deficiência (Andis), Diego Spagnuolo, assegura que a irmã do presidente recebia 3% das compras de medicamentos para deficientes.
O agora ex-funcionário afirma nessas gravações ter avisado a Javier Milei sobre a suposta trama de sua irmã e secretária da Presidência. Na segunda-feira, o Ministério da Segurança também pediu um mandado de busca e apreensão contra o canal de streaming Carnaval Stream, assim como contra jornalistas e empresários envolvidos com esse meio, por onde foram divulgados pela primeira vez os áudios de Karina Milei e os de Spagnuolo.
A justiça ainda não decidiu sobre esse pedido, nem ordenou prisões. A divulgação dos áudios de Spagnuolo gerou uma denúncia judicial que resultou em mais de 20 mandados de busca e apreensão.
Karina Milei não se manifestou publicamente sobre o tema, enquanto Javier Milei rejeitou as acusações. “Tudo o que ele [Spagnuolo] diz é mentira, vamos levar à Justiça e provar que ele mentiu”, declarou na última quarta-feira durante um ato de campanha em que manifestantes jogaram pedras contra a comitiva presidencial. O escândalo parece ter repercutido fundo junto ao eleitorado.
Contradição
“Qualquer escândalo de corrupção é uma coisa muito complicada. Ainda mais em se tratando de um presidente que sempre se apresentou contra a casta corrupta, com discurso muito forte contra isso quando se elegeu, e criou uma imagem que, mesmo tendo alguns defeitos, jamais teria esse, que é considerado tão grave”, disse ao Brasil de Fato a professora Miriam Gomes Saraiva, do departamento de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Ela ressalta que o pleito de 7 de setembro, no qual vão ser escolhidos legisladores da maior província do país, é prévia da disputa de outubro, na qual vão ser eleitos os congressistas nacionais. Milei esperava finalmente conseguir maioria no Congresso, apoiado no controle da inflação, mas medidas de austeridade, que jogaram mais da metade da população para baixo da linha da pobreza, vêm corroendo sua popularidade.
Milei enfrenta os maiores índices de desaprovação desde o início do mandato, em dezembro de 2023, e os números mostram tendência de alta. Pesquisa AtlasIntel, publicada em 28 de agosto, indica que mais da metade dos argentinos (51%) desaprova o governo. Em julho, a desaprovação era de 47,8%.
“Ao desmontar essa imagem [de combate à corrupção], ele deve perder eleitores, especialmente aqueles que não têm lealdade absoluta, não pertencem à bolha dele”, conclui.