Na tentativa de desvencilhar o tenente-coronel Mauro Cid do planejamento da trama golpista, a defesa alegou que o militar “jamais articulou o golpe”. A declaração foi feita nesta terça-feira (2) durante o julgamento do chamado núcleo crucial da tentativa de ruptura da democracia, no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Os autos revelam que Mauro Cid jamais elaborou, compartilhou, incitou qualquer conteúdo golpista. Não há sequer uma única mensagem de sua autoria propondo incentivando qualquer atentado à democracia ou ao sistema eleitoral”, disse o advogado Cezar Roberto Bitencourt ao argumentar que a acusação confundiu os papéis de Mauro Cid. “A acusação confunde um vínculo funcional com subserviência, com conduta criminosa”.
O advogado também adotou uma linha de tentar derrubar as alegações da defesa dos outros réus que pedem a anulação da delação de Cid por contradições nos depoimentos.
“Isso aqui não é coação. O Mauro Cid está reclamando da posição do delegado, isso é direito. E cumpre fazermos uma pergunta aqui: qual é a versão que constou nos autos? A versão do Mauro Cid ou a versão do delegado? Qual versão que prevaleceu? Dizer que isso é ser coagido, com todas as vênias, seria acadêmico”, pontuou.
Versão militar
Além da tentativa de desvincular Cid da articulação da trama golpista, os advogados do militar optaram por apresentar outra “versão” do ex-ajudante de ordens, para além da imagem de delator. O advogado Jair Ferreira leu, no início da arguição, uma pequena biografia do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e destacou os 30 anos de experiência militar.
“Por último, [ele foi] ajudante de ordem do ex-presidente da República Jair Messias e é desse militar, que o Exército chama de 01 por conta de sua competência, é deste filho de um general do Exército quatro medalhas, de um pai de três meninas e um esposo, que eu venho aqui fazer a defesa”, destacou o advogado.
O primeiro dia da sessão foi dividido em dois momentos: no primeiro, pela manhã, falaram o relator da ação penal, o ministro Alexandre de Moraes, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.
A parte da tarde ficou reservada para as alegações finais das defesas dos réus. O julgamento seguirá por mais oito sessões, com a votação final prevista para o dia 12 de setembro.
Todos são acusados pela Procuradoria pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima, e deterioração de patrimônio tombado. As penas podem chegar a cerca de 40 anos de prisão.