Oito escolas do campo seguem mobilizadas. Elas podem ter suas atividades encerradas caso a Secretaria de Educação do Paraná (Seed) mantenha a intenção de remanejar seus alunos e profissionais. O argumento é a falta de demanda de estudantes nessas escolas. Por outro lado, a comunidade vê a possibilidade de expansão e absorver estudantes de outros locais. Já a gestão estadual disse que “não há, até o momento, confirmação de encerramento de atividades, uma vez que qualquer deliberação está condicionada à conclusão da análise técnica.”
Na semana passada, representantes dessas escolas se reuniram com a Articulação Paranaense Por uma Educação do Campo, das Águas e das Florestas (Apec) para tratar do tema. Eles trocaram experiências e relatos sobre a mobilização que tem sido feita para evitar o fechamento.
Segundo eles, é possível reverter e reabrir escolas. “A história mostra que quando a comunidade está organizada pelo bem comum, do direito à educação contextualizada e próxima de onde vivem, as conquistas para as famílias que vivem e trabalham no campo se materializam”, argumentam citando uma mobilização que ocorreu em novembro de 2020.
Para os afetados, a SEED e os Núcleos Regionais de Educação (NRE’s), há tempos estão demonstrando de maneira nítida qual o projeto para as escolas do campo: fechar, diminuir, ofertar menos recursos, sugerir propostas alinhadas ao agronegócio, não ofertar de maneira ampliada formação específica para os professores e professoras das escolas do campo e não estimular campanhas de promoção das escolas do campo, campanhas de matrículas e rematrículas.
Mobilização
Na semana passada, manifestações aconteceram em diversas escolas do campo. Estudantes, professores e comunidade realizaram “abraço simbólico” em escolas, além de tentarem conscientizar a população dos municípios. Eles têm se organizado também para fazer levantamento e um dossiê do impacto relativo ao fechamento de uma escola do campo.

Nota da Seed
Procurada pela reportagem novamente, a assessoria da Secretaria de Educação reforçou a nota de que o processo de eventual encerramento de unidades escolares da rede estadual integra o planejamento anual para o exercício de 2026, atualmente em fase de elaboração. A definição considera critérios objetivos, como demanda de atendimento, quantitativo de matrículas e demais indicadores. Ressalta-se que não há, até o momento, confirmação de encerramento de atividades, uma vez que qualquer deliberação está condicionada à conclusão da análise técnica a ser realizada pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed).
Escolas do campo fechadas no Paraná e Brasil
Salomão Mufarrej Hage, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do Fórum Paraense de Educação do Campo e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo, Águas e Florestas das Amazônias, destaca dados relativos ao fechamento de escolas ou paralisação no Paraná e no Brasil. Ele se baseia em dados e microdados do censo escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
De acordo com o Censo Escolar do Inep- 2000-2024, neste período, o Paraná fechou 6.643 escolas, sendo 4.480 nos territórios rurais. Só em 2024 foram fechadas 45 escolas nos territórios rurais. No mesmo ano foram identificadas 121 escolas rurais paralisadas no estado.
No Brasil, o número de escolas extintas entre 2000 e 2024 foi de 163.075 escolas, sendo que dessas escolas extintas, 110.392 estavam localizadas no campo. Somente em 2024, a quantidade de escolas extintas ainda registrou 3.159 escolas, número ainda bastante expressivo, sendo que foram 1.585 escolas no campo e 1.574 escolas na cidade.
“Realizamos a resistência social e educacional como direito a ser garantido e não aceitamos a paralisação e o fechamento de escolas do campo, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pescadoras e extrativistas tomadas por medidas arbitrárias de caráter extremo que violam frontalmente os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade material, da função social da educação e da participação popular nas políticas públicas, sem estar condicionadas a um conjunto normativo rigoroso que assegure a proteção integral do direito à educação”, sustenta Salomão Mufarrej Hage.
Confira a lista de escolas que podem ser fechadas no Paraná
ERM Raios do Saber – Diamante do Sul – Laranjeiras do Sul
EEC Barra Bonita – Três Barras do Paraná – Cascavel
EEC Iolópolis – São Jorge do Oeste – Dois Vizinhos
EEC Albino O de Proença – São Jerônimo da Serra – Cornélio Procópio
EEC Manoel S Gonçalves – Tomazina – Ibaiti
EEC Vila União – Rosário do Ivaí – Ivaiporã
EEC Conceição L de Almeida – Mangueirinha – Pato Branco
EEC Palmital do 43 – Roncador – Campo Mourão