A Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), vive um momento em que a segunda retomada de seu território tradicional ganha um novo e decisivo capítulo. Com a participação do deputado federal Leonardo Monteiro (PT) e uma postura da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que a própria comunidade considera uma reparação histórica, a mobilização, iniciada no mês passado, é impulsionada pela urgência de proteger suas terras contra a crescente mineração de lítio e pela necessidade de resolver o acesso à água.
Toakaninã Pankararu, uma das vozes da aldeia, descreve essa nova fase com otimismo cauteloso. Para ela, a Funai demonstra um reconhecimento de falhas passadas, o que se traduz em agilidade.
“Diante da falha da Funai no decorrer desta década, a fundação agilizou a vinda ao território para o início de outubro de 2025, com uma agenda construída conosco. Nos sentimos considerados e avaliamos que a Funai está reconhecendo a falha que cometeu”, avalia.
Toakaninã também explica a importância da atuação parlamentar, citando como exemplo a presença do deputado federal Leonardo Monteiro. “Ele se comprometeu também a fazer essa retomada junto com a gente e entrou em contato com a Funai diretamente.”
Ação da Funai
Em reunião em Brasília, no dia 20 de agosto, a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, e sua equipe técnica discutiram com Monteiro ações conjuntas para assegurar os direitos da aldeia em Araçuaí.
A fundação ainda destacou que o objetivo é resolver, entre outras questões, a dificuldade de acesso à água no território, um problema que, embora específico, está intrinsecamente ligado aos impactos mais amplos das atividades externas, como a mineração. Wapichana ainda aproveitou o encontro para pedir o apoio do deputado no Congresso Nacional para frear o avanço de propostas legislativas prejudiciais aos povos indígenas.
A expectativa é de que a agenda marcada para outubro deste ano seja um marco decisivo para a comunidade indígena. Toakaninã revela a preparação da aldeia. “Nós temos um grupo de trabalho pronto desde 2012. Temos relatório pronto sobre a área da reserva da Aldeia Cinta Vermelha Jundiba.”
Desafios e apelo por celeridade
Apesar dos avanços recentes, a retomada não ocorre sem tensões. Toakaninã Pankararu expressa a preocupação com reações racistas na região.
“É importante que esse problema seja resolvido o mais rápido possível pela Funai e pelos órgãos competentes, porque já estamos recebendo muitas críticas.”
A situação é agravada pela proliferação de discursos de ódio, com a liderança alertando que a comunidade, que já sofre “discriminação e racismo”, tem recebido “muitas palavras de cunho racista, discriminatório por meio da internet.”
Diante disso, a representante indígena faz um apelo pela celeridade na resolução, pois “conforme vai demorando, as coisas vão se acirrando mais.” A comunidade aguarda com esperança, mas também com a urgência de quem sabe que a demora pode intensificar os conflitos.
Para compreender a profundidade histórica da retomada Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, desde a primeira até esta segunda manifestação, acesse a reportagem do Brasil de Fato MG.