Nas últimas semanas, novas denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o Banco Master vieram à tona, ampliando as dúvidas sobre a tentativa de aquisição da instituição pelo Banco de Brasília (BRB). Se concretizada, a operação pode expor o banco público do Distrito Federal a riscos jurídicos e de imagem, especialmente devido ao histórico de fraudes no setor de crédito consignado.
O Master é alvo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e é acusado de aplicar golpes em aposentados e pensionistas. Em depoimento nesta terça-feira (2), o advogado Eli Cohen — responsável por identificar um dos maiores esquemas de fraude no consignado do país — detalhou como o banco e outras instituições lesavam clientes com contratos falsos, reaproveitamento de documentos sem autorização e depósitos de valores inferiores aos contratados.
Além disso, o nome do banco aparece na Operação Carbono Oculto, deflagrada na última quinta-feira (28) pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal, o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal. A investigação revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro vinculado ao PCC, além de fraudes, sonegação fiscal e adulteração de combustíveis.
Essas acusações fortalecem a pressão pela suspensão da compra do Master pelo BRB. A transação levanta suspeitas de crimes, conflitos de interesse e riscos de movimentação de recursos ilícitos.
“Estamos falando de práticas que lesam diretamente os brasilienses”, alerta Leila do Vôlei
Segundo Eli Cohen o esquema foi estruturado pelo executivo Márcio Alaor, conhecido como “Papa do Consignado”. Ex-vice-presidente do Banco BMG, Alaor comandou a área de consignados do Master e hoje ocupa posição de destaque no PicPay.
“O aposentado é sempre a vítima. O golpe só muda um pouquinho de cara”, declarou.
Durante a oitiva, a senadora Leila Barros (PDT-DF) destacou a gravidade das denúncias diante a tentativa de compra do Master pelo BRB, justamente para ampliar sua carteira de consignados.
Para ela, é inaceitável que um banco público do Distrito Federal esteja prestes a assumir uma instituição envolvida em suspeitas tão sérias.“Estamos falando de práticas que lesam diretamente os brasilienses, os servidores do GDF e os aposentados, a camada mais vulnerável da sociedade. É preciso esclarecer os riscos antes de avançar em qualquer negociação”, afirmou a senadora, alertando preocupação com os impactos da operação para o patrimônio público do DF.
Representação no Banco Central
O deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF) protocolou, em 28 de agosto, uma representação no Banco Central contra a negociação entre os dois bancos, à luz das descobertas da Operação Carbono Oculto.
Segundo a Receita Federal, pelo menos 40 fundos de investimento, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões, foram utilizados para ocultação de bens no mercado financeiro paulista. Entre os mecanismos estavam fintechs e instituições de pagamento que operavam com contabilidade paralela, permitindo transferências sem identificação dos beneficiários finais.
Um dos alvos é a Reag Investimentos, de João Carlos Mansur, que passou a controlar a holding do Will Bank. O Banco Master concentrou cerca de 75% das operações financeiras nos arranjos societários envolvendo a fintech.
“A Reag, por sua vez, herdou ativos valiosos, como créditos fiscais e até um pré-precatório de mais de R$ 500 milhões. É nesse emaranhado suspeito que o BRB, patrimônio do Distrito Federal, pode ser envolvido”, alerta Fábio Felix.
Relações antigas
A representação também destaca que não é a primeira vez que o Master e a Reag entram no radar da PF. Em 2020, a Operação Fundo Fake apontou fraudes em fundos de pensão de servidores públicos entre 2010 e 2017.
Já em 2024, dois fundos da gestora — Hans 95 e Reag Growth 95 — injetaram ao menos R$ 1,2 bilhão no Master, quando o banco já enfrentava dificuldades de liquidez.
O documento cita ainda a atuação do Borneo FIP Multiestratégia, que detém milhares de ações do BRB. Na assembleia de 12 de março deste ano, que aprovou medidas preparatórias para a compra do Master, um representante da Borneo participou, mas se absteve de votar. Conforme a ata, ele possuía 2,27 milhões de ações ordinárias (0,8% do total com direito a voto) e 13,1 milhões de ações preferenciais (11,6% do total sem voto). O gesto, segundo a representação, buscou evitar abuso de direito, já que o fundo tem interesses tanto no comprador quanto no vendedor.
Para Felix, esse cenário reforça o risco de o BRB estar integrado a um sistema de intermediação financeira voltado à lavagem de dinheiro. “Isso significa que a Reag, alvo da Operação Carbono Oculto, detém interesses de comprador e vendedor na operação entre BRB e Master”, diz o documento.
Outro ponto crítico apontado pelo documento é o Will Bank, fintech adquirida pelo Master e considerada pelo BRB um ativo estratégico para sua expansão digital entre as classes C e D. O problema, segundo a representação, é que a fintech está inserida no conglomerado de empresas ligadas à Reag e sob investigação por lavagem de dinheiro, o que ameaça a estabilidade financeira de um banco público e, por consequência, o patrimônio do povo do DF.
O distrital finaliza destacando que, embora não haja imputação criminal direta ao Banco Master, é necessário ter cautela na análise da compra do Banco Master pelo BRB, solicitando a suspensão da operação até o fim das investigações da Operação Carbono Oculto e a avaliação de riscos ao patrimônio público do Distrito Federal com a incorporação de ativos do banco, além de eventuais informações complementares ao BRB, Banco Central e CVM para garantir a regularidade e a segurança da operação.
Segundo a assessoria do parlamentar, o Banco Central ainda não se manifestou.
A reportagem do Brasil de Fato DF entrou em contato com as assessorias de imprensa do Banco Master e do Banco BRB para que pudessem se posicionar sobre as denúncias, no entanto, não houve manifestação até a publicação. O espaço está aberto.