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espetacularização

Coldplaygate: privacidade, imagem e julgamento público na era digital

O caso Coldplaygate oferece material importante para refletir sobre os limites da exposição pública

04.set.2025 às 12h12
Porto Alegre (RS)
Elizabeth Machado Veloso
Coldplaygate: privacidade, imagem e julgamento público na era digital

Vídeo captado durante um show — e posteriormente amplamente compartilhado nas redes — colocou em pauta questões jurídicas, sociais e culturais - AFP, INSTAAGRAACE/TIKTOK

O episódio que ficou conhecido como Coldplaygate levanta discussões importantes sobre privacidade, imagem, exposição pública e os limites da comunicação em tempos de espetacularização digital. Um vídeo captado durante um show — e posteriormente amplamente compartilhado nas redes — colocou em pauta questões jurídicas, sociais e culturais que merecem ser analisadas com distanciamento crítico e rigor acadêmico.

O registro da imagem e os limites da exposição pública

A gravação foi feita por câmeras oficiais do evento. Ainda que o uso da imagem para exibição durante o show possa estar previsto nos termos de ingresso, o compartilhamento posterior, fora do contexto original e com juízos morais embutidos, escapa ao consentimento informado. O artigo 20 do Código Civil estabelece que a divulgação da imagem deve respeitar a honra, a boa-fama e a intimidade da pessoa retratada (Brasil, 2002).

Cabe ressaltar que a Constituição Federal, em seu artigo 5º, assegura a proteção da intimidade, vida privada e imagem. Esses direitos são reforçados pelo marco legal da proteção de dados pessoais, especialmente a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018), que trata do tratamento de informações que possam identificar uma pessoa e estabelece a necessidade de base legal clara para sua utilização.

Como destaca Danilo Doneda (2006), a proteção de dados está associada à autodeterminação informacional, isto é, ao controle que cada indivíduo deve exercer sobre o fluxo de suas informações pessoais. O caso em análise evidencia que, mesmo em situações públicas, a exposição de dados ou imagens requer cuidado adicional.

Privacidade em tempos de redes: ainda faz sentido falar dela?

A questão sobre a relevância da privacidade em uma sociedade hiperconectada é central. Christian Fuchs (2021) lembra que, nas redes digitais, os sujeitos produzem conteúdo e, ao mesmo tempo, são objetos de coleta, análise e monetização de dados. A privacidade não desapareceu — mas foi progressivamente ressignificada e negociada em ambientes onde o valor de mercado da exposição é alto.

Shoshana Zuboff (2019) alerta para os riscos do capitalismo de vigilância, no qual os dados pessoais são utilizados como matéria-prima para previsões comportamentais, sem transparência ou controle. A privacidade, nesse contexto, torna-se não apenas um direito individual, mas uma condição estrutural para a democracia informacional.

Julgamento público e crítica moral na cultura digital

É importante diferenciar crítica social de julgamento moral. No caso analisado, a repercussão nas redes ultrapassou a análise comportamental e se transformou em linchamento virtual, sem direito ao contraditório ou à defesa. Memes, vídeos adulterados e interpretações emocionais alimentaram a viralização, criando uma narrativa unificada sobre a queda de reputação.

Como observa Tarleton Gillespie (2018), as plataformas digitais incentivam conteúdos com alto potencial de engajamento — muitas vezes sensacionalistas — porque são mais rentáveis. A viralização, nesse caso, transforma um conflito íntimo em espetáculo público e monetizável.

Esfera pública, moral e espetacularização

O fenômeno da espetacularização, já descrito por Guy Debord (1967), se atualiza com a lógica das redes. O espetáculo substitui a experiência direta por representações editadas, fragmentadas e consumíveis. O caso do Coldplaygate ilustra como eventos cotidianos, ao ganharem visibilidade, adquirem status de narrativa pública, com funções simbólicas de punição ou purgação.

Hannah Arendt (1916) distingue entre o espaço privado, essencial à singularidade humana, e o espaço público, onde se exercem ações coletivas. A confusão entre esses dois domínios, intensificada pela tecnologia, fragiliza tanto a autonomia do sujeito quanto a responsabilidade pública. Quando tudo é exposto, o indivíduo perde o direito ao esquecimento e à complexidade.

Durkheim (1895) lembra que todo julgamento moral é também julgamento social. A sanção simbólica aplicada ao protagonista do caso reflete normas implícitas de conduta e revela expectativas sobre o comportamento de figuras públicas — especialmente quando essas pessoas ocupam cargos de liderança.

Relações líquidas e divórcio como performance emocional

A romantização do divórcio, ainda não confirmado no caso concreto, foi amplamente difundida por comentaristas e perfis digitais. A ruptura foi celebrada como “evolução emocional” e “empoderamento”, mesmo sem elementos suficientes para análise. Bauman (2003) define esse fenômeno como parte da liquidez das relações sociais: laços frágeis, de curta duração e baixo compromisso.

A estetização da ruptura — com frases motivacionais, conselhos rápidos e linguagem de autoajuda — revela uma tentativa de tratar lutos complexos como eventos inspiracionais. No entanto, o divórcio envolve luto, reelaboração e responsabilização. Transformá-lo em conteúdo leve é, em alguma medida, negar sua profundidade psíquica e social.

Considerações finais

O caso Coldplaygate oferece material importante para refletir sobre os limites da exposição pública, os direitos fundamentais à privacidade e à imagem, e o papel das redes sociais na construção (e desconstrução) de reputações.

A privacidade ainda é relevante — não como um resíduo do passado, mas como princípio regulador da convivência digital. A proteção de dados não deve ser vista como obstáculo à liberdade de expressão, mas como condição para garantir o respeito à individualidade e à complexidade das relações humanas.

Por fim, a reação pública ao caso analisado reflete mais do que indignação ética: evidencia os mecanismos de monetização da moral, em um ambiente onde a atenção é recurso escasso e a viralização é poder. Como sociedade, cabe-nos discutir se os mecanismos que hoje celebramos — likes, cancelamentos, juízos instantâneos — são compatíveis com os valores democráticos que desejamos preservar.

*Elizabeth Machado Veloso é jornalista. Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal, consultora legislativa na área de Comunicação da Câmara dos Deputados e apresentadora do Programa Papo de Futuro, na Rádio e na TV Câmara.

**Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil do Fato.

Referências

Arendt, H. (1916). A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Bauman, Z. (2003). Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar.

Brasil. (2002). Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.

Debord, G. (1967). A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

Doneda, D. (2006). Da privacidade à proteção dos dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar.

Durkheim, É. (1895). As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Fuchs, C. (2021). Social Media: A Critical Introduction. London: Sage.

Gillespie, T. (2018). Custodians of the Internet: Platforms, Content Moderation, and the Hidden Decisions That Shape Social Media. Yale University Press.

Zuboff, S. (2019). The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. New York: PublicAffairs.

Editado por: Vivian Virissimo
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