Nesta quinta-feira (4), é celebrado o Dia Mundial da Saúde Sexual, data que chama atenção para a importância da educação, da prevenção e dos direitos sexuais. No Brasil, o debate ainda enfrenta tabus, especialmente quando o assunto é sexualidade infantil. Para a psicóloga Ana Luiza Telles, especialista em educação e terapia em sexualidade, iniciar conversas sobre o tema cedo é fundamental para o desenvolvimento saudável.
“[Ao mencionar] educação em sexualidade, estamos falando, na verdade, do autoconhecimento, do entendimento do próprio corpo, de consentimento. (…) Existe uma dúvida muito comum e um medo muito grande de que falar em educação, em sexualidade, na verdade, é ensinar as crianças a fazer sexo. Mas é muito pelo contrário”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Telles, adolescentes e jovens que tiveram acesso esse tipo de educação iniciam a vida sexual mais tarde, inclusive. Ela alerta que a falta de informação, por outro lado, contribui para índices elevados de gravidez precoce e situações de abuso. “Para a criança conseguir se proteger nesses casos, ela precisa de informação. E aí entra o papel fundamental de adultos de referência dessa criança, (…) e da escola, para que a escola forneça informações baseadas na ciência”, explica.
Educação sexual é diferente de adultização
O debate ganhou força recentemente com o Projeto de Lei Felca, criado após denúncias de exposição sexual de menores nas redes sociais e aprovado no Senado na última semana. Telles defende que é preciso diferenciar educação sexual de adultização. “Vemos que tem um número grande de acesso em vídeos que exploram o corpo de crianças e adolescentes. E, ao mesmo tempo, o movimento das plataformas de derrubar vídeos de educação em sexualidade. (…) O vídeo de Felca é um marco muito importante, porque ele teve uma visibilidade muito grande e permitiu que esse debate fosse ampliado”, aponta.
A psicóloga também destaca diferenças no acompanhamento médico entre meninos e meninas. “Temos, socialmente, uma questão da mulher muito mais ligada à saúde do que o homem. (…) Isso faz com que mais mulheres sejam testadas, por exemplo, para ISTs [Infecções Sexualmente Transmissíveis] do que homens. E a testagem para IST, com frequência, é, inclusive, um método de prevenção de futuras contaminações”, ressalta.
Outro desafio é o contato precoce com a pornografia. Para Telles, o consumo distorce a percepção da realidade e prejudica a vivência saudável da sexualidade. “Algumas pesquisas mostram que ela é responsável pela diminuição do prazer sexual das pessoas ao longo do tempo. (…) Falar sobre pornografia é importante justamente para que os jovens entendam que esse tipo de conteúdo não corresponde exatamente à realidade”, defende.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.