O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou, nesta quinta-feira (4), em Belo Horizonte (MG), o programa Gás do Povo, que deve garantir a gratuidade do gás de cozinha para até 15,5 milhões de famílias brasileiras inscritas no Cadastro Único, com renda per capita igual ou inferior a meio salário mínimo. A medida substitui o antigo Auxílio Gás e é vista como uma das principais vitrines do governo federal para o período final do mandato.
“Atrás de cada botijão de gás tem uma mãe de família ralando na cozinha para alimentar os filhos”, disse Janja, ao agradecer a iniciativa. “A gente não vai mais precisar ver crianças morrendo por causa de fogão improvisado com álcool”, acrescentou.
Em discurso emocionado, Lula compartilhou com o público a memória de quando sua mãe chorou por não ter dinheiro para comprar gás de cozinha. “Eu fui buscar cinco cruzeiros emprestado com meu tio, e me perdi no ônibus. Voltei chorando, sem o dinheiro, e sem o gás. Vi minha mãe chorar por causa disso”, relatou.
O presidente defendeu que não basta garantir alimento, é preciso garantir o meio para cozinhá-lo. Ele criticou a diferença entre o valor de saída do botijão da Petrobras, que seria de R$ 37, e os preços praticados ao consumidor final, que podem ultrapassar R$ 150.
“Já que o Brasil tem dinheiro, o que falta é tratar o povo com dignidade”, afirmou Lula, ao anunciar a ampliação do benefício. “Nós vamos sair de 5 milhões para 17 milhões de famílias beneficiadas”, completou.
Foco na segurança
O novo programa amplia o antigo Auxílio Gás, que atualmente atende cerca de 5,4 milhões de famílias. Além de aumentar o número de beneficiários, o governo também busca garantir o acesso ao chamado “cozimento limpo”, reduzindo o uso de lenha e combustíveis improvisados por famílias de baixa renda.
Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), a medida pode reduzir em até 50% o uso de lenha em domicílios pobres, com impactos diretos na saúde pública e na qualidade de vida de mulheres, crianças e idosos. A proposta se insere no pacote de políticas públicas de combate à fome e é apresentada como um direito social, e não um favor governamental.
A cerimônia aconteceu no Aglomerado da Serra, maior favela da capital mineira, e reuniu ministros e ministras de Estado, parlamentares, lideranças populares e representantes do governo local. Participaram do evento o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), além de figuras como os ministros Alexandre Silveira (PDS), Wellington Dias (PT), Rui Costa (PT), Márcio Macêdo (PT), Macaé Evaristo (PT) e a primeira-dama Janja da Silva, que discursou em nome das mulheres brasileiras.
Medidas estruturantes e críticas ao governo anterior
Durante a cerimônia, Lula fez um balanço das ações do atual mandato e afirmou que muitos dos programas sociais começaram a dar frutos apenas agora. “A semente não vira árvore no dia seguinte. A gente plantou e agora está colhendo”, disse, ao se desculpar pela demora na entrega de algumas promessas.
Entre os exemplos citados estão a ampliação da rede do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o aumento no número de médicos do SUS, a retomada das obras de creches e escolas paradas e a criação do novo programa de saúde bucal. O presidente também lembrou que programas sociais como o “Energia do Povo”, que garante gratuidade da conta de luz para famílias que consomem até 80 KWh por mês, também já estão em vigor.
Ao criticar gestões anteriores, Lula afirmou que encontrou o país em situação de abandono. “Reconstruímos tudo isso, porque um país só é decente quando garante dignidade aos que mais precisam”, declarou.
Entenda o programa
O Gás do Povo começará a funcionar a partir de outubro e terá orçamento de R$ 5,1 bilhões previsto no Projeto de Lei Orçamentária de 2026. De acordo com o governo, o benefício garante retirada gratuita de botijões de 13 kg, sem necessidade de pagamento em dinheiro, diretamente nos postos de revenda credenciados. São 58 mil postos espalhados pelo país, segundo os dados oficiais. Os locais de entrega e os botijões serão padronizados com a identidade visual do programa.
A frequência da retirada será proporcional ao tamanho da família:
- dois integrantes: até três botijões por ano;
- três integrantes: até quatro botijões por ano;
- quatro ou mais integrantes: até seis botijões por ano.
As famílias poderão acessar o benefício por meio de quatro modalidades:
- aplicativo digital (ainda em fase de finalização);
- cartão específico do programa;
- QR code impresso, retirado em lotéricas ou agências da Caixa;
- cartão do Bolsa Família, conforme o caso.
O preço de referência do gás não incluirá o valor do frete, e o custo da entrega, caso seja necessário, ficará por conta do beneficiário. Toda a operação será gerida pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Como acessar o Gás do Povo
A seguir, o serviço básico para famílias que desejam acessar o novo programa:
- Quem tem direito: famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) com renda mensal per capita de até meio salário mínimo.
- Quando começa: a partir de outubro de 2025.
- Como acessar: retirada do botijão em revendas credenciadas com um dos seguintes meios:
- aplicativo próprio do programa (a ser lançado);
- cartão específico;
- QR code impresso obtido em lotéricas e agências da Caixa;
- cartão do Bolsa Família.
- Quantos botijões por ano:
- 2 integrantes: até 3 botijões;
- 3 integrantes: até 4 botijões;
- 4 ou mais integrantes: até 6 botijões.
- Custo do frete: o beneficiário arcará com a entrega domiciliar, caso opte por ela.