O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse nesta sexta-feira (5) que os Estados Unidos querem fazer uma mudança violenta de regime no país. O mandatário afirmou que Donald Trump deve “abandonar” essa ideia, que vem sendo encabeçada pela elite estadunidense.
“Digo mais uma vez ao presidente Donald Trump que a tentativa de criar um caso falso sobre tráfico de drogas é um erro. Os Estados Unidos devem abandonar seu plano de mudança violenta de regime na Venezuela, na América Latina e no Caribe, e respeitar nossa soberania, heroicamente conquistada por nossos libertadores”, afirmou.
A fala vem em meio ao aumento da tensão envolvendo Caracas e Washington, nas últimas semanas. A Casa Branca deslocou 8 navios de guerra para o sul do Caribe com a justificativa de combater o tráfico de drogas na região.
Nesta semana, o governo Trump divulgou um vídeo abatendo uma lancha no Caribe. A Venezuela afirmou que a publicação havia sido feita por Inteligência Artificial. Nesta quinta, o Departamento de Estado dos EUA acusou o sobrevoo de dois caças venezuelanos sobre as embarcações militares que estão na região.
Durante o evento para mudar o nome do Departamento de Defesa, Trump também comentou o voo e deu um novo passo na escalada de tensão entre seu país e a Venezuela. Segundo o mandatário estadunidense, a orientação para os militares é clara: derrubar novas ameaças.
“Se nos colocam em uma situação perigosa, serão derrubados. Se se viam em uma posição perigosa, podem tomar a decisão que seja adequada”, disse Trump ao agora secretário de Guerra, Peter Hegseth.
A troca de declarações acontece no mesmo dia em que Maduro ativou as milícias comunais no país. A ideia do governo da Venezuela é ampliar a defesa territorial e articular duas ferramentas importantes do governo chavista na política local: comunas e milícias populares. Mesmo tendo subido o tom contra os Estados Unidos, o mandatário venezuelano abriu espaço para o diálogo com Trump.
“Nenhuma das diferenças que temos e tivemos pode levar a um conflito militar. A Venezuela sempre esteve disposta a conversar, a dialogar, mas exigimos respeito. É por isso que estou dizendo ao presidente Donald Trump, da pacífica Venezuela, que a tentativa de alguns de seus funcionários de provocar uma mudança de regime na Venezuela novamente é um erro”, afirmou Maduro.
Ameaça dos EUA
A tensão aumentou na região nas últimas semanas, depois que os Estados Unidos subiram o tom contra o governo Maduro. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que o país usaria “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
Depois disso, agências de notícias internacionais começaram a noticiar o envio de navios militares para a região. Ao todo, seriam três embarcações com 4 mil soldados estadunidenses que foram deslocados ao sul do Caribe para combater o tráfico de drogas. Na terça-feira (26), o cruzador de mísseis guiados USS Lake Erie e o submarino USS Newport News teriam sido incorporados à missão, além de uma nova tropa francesa, segundo a CNN.
Em resposta, o governo venezuelano anunciou que deslocaria uma tropa para o sul do Caribe e 15 mil soldados para a fronteira com a Colômbia. O presidente Nicolás Maduro promoveu, ainda, um alistamento em massa de voluntários à Milícia Nacional Bolivariana, no último final de semana.
A milícia bolivariana é uma organização formada em 2009, composta por civis e militares aposentados em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em diferentes contextos — urbano e rural. O grupo passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que têm uma estrutura diferente do Brasil.
O governo reforçou a importância desse alistamento para a defesa da soberania nacional e realizou uma nova rodada de inscrições na sexta-feira (29) e sábado (30).