Neste domingo (7), data em que movimentos populares em todo o Brasil realizam o Grito dos Excluídos e Excluídas, cerca de 80 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam um prédio abandonado há quase dez anos no Centro de Porto Alegre. A ação integra a jornada nacional do MLB, que iniciou ocupações em 18 cidades brasileiras.
Com o lema “Não há independência, nem soberania, sem direito à moradia”, a jornada denuncia o déficit habitacional no Brasil, que já afeta mais de 8 milhões de famílias, além da insuficiência das políticas públicas voltadas para habitação popular. O movimento também expressa solidariedade internacionalista ao povo palestino.
O imóvel ocupado na capital gaúcha fica na rua Andrade Neves, onde até 2016 funcionou a Sociedade Espírita Allan Kardec. Com a ação, o MLB passou a chamar o local de Ocupação Palestina Livre! Marcela Vive!
O coordenador estadual do MLB, Gustavo Ramos, explica que as ocupações foram organizadas de forma simultânea em diferentes capitais. Segundo ele, a mobilização busca “denunciar a falta de acesso à moradia como um direito fundamental que deveria ser garantido pelo poder público, mas que foi transformado em mercadoria para gerar lucro”.
Apoio à Palestina
Dados divulgados por autoridades palestinas e organismos da ONU apontam mais de 70 mil mortos, 150 mil feridos, 2 milhões de deslocados e 80% das edificações da Faixa de Gaza destruídas pelo regime de Israel. Para Ramos, as duas lutas estão conectadas.
“As mesmas balas que matam o povo palestino estão aqui matando o povo da periferia”, afirma. “Pode parecer longe, mas não está. Um povo inteiro está sendo dizimado pelo Estado genocida de Israel. Nossa ocupação busca mostrar que só conquistaremos soberania de verdade com moradia digna e com o socialismo, que é a nossa reivindicação máxima”, complementa.
Jornada nacional em 18 cidades
Segundo informações do MLB, a maioria dos imóveis ocupados pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e estava há anos sem cumprir função social. Em pelo menos três cidades, houve violência policial contra os manifestantes.
Em São Paulo, cerca de 300 famílias ocuparam um prédio no bairro da Liberdade, no centro da capital. A ação foi duramente reprimida pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, que utilizou bombas de gás contra os manifestantes. Lideranças foram detidas e as famílias despejadas sob violência.
Situação semelhante ocorreu nas ocupações chamadas “Palestina Livre” no Rio de Janeiro e em Goiânia. O MLB denuncia que as famílias foram vítimas de espancamentos e despejos forçados. “Para os governos, é mais importante manter prédios vazios do que garantir moradia digna às famílias sem-teto”, afirmou o movimento em nota.
Para o MLB, as ocupações no feriado da Independência reforçam que “a luta por moradia é inseparável da defesa da soberania popular”.