As manifestações do 7 de setembro marcaram uma nova fase das mobilizações no Brasil, segundo o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Juliano Medeiros. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele destaca que, ao contrário dos atos de abril, que tinham como foco a anistia, os protestos deste domingo (7) apresentaram pautas mais amplas, especialmente no campo progressista.
“É a primeira vez em muito tempo que as esquerdas conseguem mobilizar, numa manifestação, uma agenda tão clara, que não é apenas em reação às posições da extrema direita (…), também [é] uma agenda propositiva”, afirma Medeiros. Entre as bandeiras citadas estão a redução da taxa de juros, o fim da escala 6 x 1, a reforma do imposto de renda para isentar quem ganha até R$ 5 mil mensais e taxar os super ricos, além da reação ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs 50% de taxa sobre exportações brasileiras.
Ao mesmo tempo, ele ressalta que a figura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ganhou novo peso nas ruas. “ Tarcísio de Freitas, nas mobilizações de abril, era um coadjuvante, e agora é um protagonista, tanto na manifestação da direita, onde ele assume o protagonismo para atacar o Supremo Tribunal Federal, para atacar a democracia, quanto na manifestação da esquerda, onde ele também é mais atacado, mais criticado e mais questionado do que jamais havia sido”, avalia.
Para Medeiros, o governador paulista subiu o tom e assumiu de vez seu papel como líder bolsonarista. “No dia de ontem, houve uma mudança onde ele definitivamente assumiu o figurino de líder da extrema-direita. Isso, acho que ficou incontestável no ataque dele ao STF, principalmente na frase emblemática, onde ele diz que [o ministro] Alexandre de Moraes é um tirano e que há uma ditadura de toga”, analisa.
O cientista político acredita que Tarcísio busca ocupar o espaço de herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diante da possibilidade de condenação do ex-mandatário no julgamento da trama golpista, em curso no STF. “Tarcísio precisa desse espólio político para ser candidato (…). Nesse momento, o que Tarcísio está fazendo é o que qualquer um que quer os votos bolsonaristas tem que fazer, revelando a sua faceta mais radical, mais extremista, que ele sempre teve”, diz.
Medeiros também destaca o papel do pastor Silas Malafaia como a “voz mais radical do bolsonarismo brasileiro” e lembra que as investigações em andamento podem revelar ligações dele com o financiamento de atos golpistas.
Sobre o julgamento no Supremo, ele prevê que a condenação de Bolsonaro ainda nesta semana. “A expectativa é que na sexta-feira, dia 12, saia a sentença de Jair Bolsonaro (…). Há uma avaliação unânime de que ele deve ter quatro ou cinco votos dos cinco ministros que acompanham a primeira turma do STF”, indica.
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