Uma operação deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), com apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar (PM-SP), cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão na favela do Moinho, na região central da capital paulista, na manhã desta segunda-feira (8/9). Entre as pessoas presas, estão Alessandra Moja Cunha e a filha dela, Yasmin Moja Flores — líderes de uma associação de moradores da comunidade.
A Ponte ouviu moradores que continuam na favela, cada vez mais esvaziada, e outras pessoas que, apesar de já terem se mudado, ainda mantêm laços com o local. Para eles, ao menos parte das prisões foi arbitrária e mirou pessoas inocentes que estavam à frente da luta por moradia digna. O Moinho passa por um processo de desocupação intensificado em maio, ocasião em que os governos Lula (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciaram um acordo ainda não efetivado para garantir imóveis gratuitos às famílias que se mudassem, após recorrentes ações truculentas da PM-SP.
“Levaram inocente, forjaram droga, prenderam gente de bem como se fosse bandido”, relatou uma das pessoas ouvidas pela reportagem. “Invadiram a casa da Yasmin, apontaram arma para ela e o marido. Ela não tem nada a ver com tráfico de drogas, nem ela, nem a mãe. Isso é mentira do Tarcísio”, afirmou outra. Uma pessoa próxima a Alessandra disse ainda que a líder comunitária teria sofrido agressões quando foi presa. “O filho dela, autista, ficou em casa sozinho, em pânico”, relatou.
Ao fim da manhã, a comunidade seguia sob forte aparato policial, com a presença de integrantes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e um helicóptero da PM-SP em sobrevoo. “Vamos devolver o centro da cidade às pessoas e garantir segurança ao cidadão de bem”, comemorou o governador em publicação em uma rede social. O secretário da Segurança, Guilherme Derrite (PL), chegou a ironizar, também em uma postagem, a visita do presidente Lula à comunidade.
MP-SP diz que grupo estaria a mando de Léo do Moinho
A ação, batizada de Operação Sharpe, teve o objetivo, segundo o MP-SP, de desarticular um grupo criminoso que estaria atuando para impedir que funcionários da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) atuassem na remoção de famílias da comunidade. O grupo estaria atuando a mando de Leonardo Monteiro Moja, irmão de Alessandra e tio de Yasmin.
Conhecido como Léo do Moinho, ele foi preso em um apartamento em Praia Grande, no litoral paulista, em agosto de 2024 e é apontado pelo MP-SP como responsável pelo abastecimento de drogas da chamada Cracolândia, além de ser uma das lideranças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo.
O grupo sob mando dele estaria atuando, ainda segundo o Ministério Público, para manter as atividades de tráfico de drogas e também para extorquir inquilinos que viviam em imóveis de Leonardo na favela e seriam contemplados pelo acordo de moradia gratuita. Alessandra estaria à frente dessas cobranças, além de prestar contas ao irmão. Já Yasmin foi vinculada ao caso por morar em uma residência de três andares na qual, no térreo, seriam armazenados produtos ilícitos.
Em nota emitida no começo da manhã, a Secretaria da Segurança Pública paulista (SSP-SP) informou que sete pessoas já haviam sido presas — seis delas em função dos dez mandados de prisão expedidos.
Além das líderes comunitárias, também foram alvos de mandado de prisão José Carlos Silva, acusado de suceder Leonardo na chefia do tráfico na região; Ronaldo Batista de Almeida e Reginaldo Terto da Silva, responsáveis pela “disciplina” na comunidade e cobrança a moradores; Leandra Maria de Lima, também atuante na extorsão a quem se mudasse; Ademario Goes dos Santos, acusado de fazer a vigilância de imóveis de Leonardo e atuar no tráfico; Jorge Santana, dono de um bar que armazenaria drogas e armas de fogo; Paulo Rogério Dias, acusado de organizar a distribuição de entorpecentes; e Cláudio dos Santos Celestino, suspeito de envolvimento com o tráfico e lavagem de dinheiro. Já Roberto Gonçalves da Cruz foi preso em flagrante porque a polícia teria encontrado droga na casa dele.
Moradores temem descumprimento de acordo por imóveis gratuitos
A mesma nota da SSP-SP que anunciou a operação tratou ainda do reassentamento das famílias que devem deixar o Moinho. Segundo a SSP, 537 mudanças já foram realizadas, com pagamento de auxílio-moradia de R$ 1,2 mil, custeado pelo governo estadual e pela prefeitura de São Paulo, sob gestão Ricardo Nunes (MDB). O comunicado não menciona, porém, o acordo firmado entre a União e o estado, que previa a entrega de moradias gratuitas.
Moradores e pessoas que já deixaram o Moinho ouvidas pela Ponte relataram que, até aqui, não tiveram acesso ao imóvel definitivo prometido. Eles temem que a truculência policial para a remoção forçada da comunidade seja retomada agora. “Foi uma farsa que fizeram para destruir com a gente”, disse uma pessoa à reportagem. As famílias também têm receio de que, com a prisão das líderes comunitárias, que eram as interlocutoras da favela junto aos governos, o acordo não seja cumprido.
Foram Alessandra e Yasmin que intercederam, por exemplo, a recepção de uma delegação do governo federal no Moinho em maio, fato que agora tem sido explorado politicamente por Tarcísio e o secretário Guilherme Derrite, à frente da SSP-SP, na tentativa de associar o governo Lula ao crime organizado. O próprio presidente esteve na comunidade no dia 26 de junho.
À Ponte, a CDHU comunicou, em nota, que aguarda o governo federal para efetivar o acordo de moradia gratuita. “A Secretaria aguarda a participação efetiva da Caixa Econômica Federal na operação. Até que isso ocorra, o Estado seguirá custeando integralmente as despesas, de modo a assegurar que nenhuma família seja prejudicada. Todas as moradias definitivas até o momento foram custeadas pela CDHU. O ajuste de contas será realizado tão logo o Governo Federal conclua seus trâmites burocráticos.”
A reportagem também procurou o governo federal, mas ainda não obteve retorno até esta publicação. Se houver, o texto será atualizado.
Remoção de moradores do Moinho
O acordo de moradia gratuita previa ceder uma carta de crédito de R$ 250 mil a cada morador, subsidiada pelos programas Minha Casa, Minha Vida (R$ 180 mil da União) e Casa Paulista (R$ 70 mil do estado de São Paulo), para que adquirissem um imóvel próprio. O anúncio dele havia sido celebrado como uma vitória da resistência da comunidade, que rejeitava a proposta inicial do governo paulista — antes, as famílias teriam de assumir um financiamento subsidiado, visto como inviável financeiramente.
O pacto foi firmado após dias de tensão, quando a PM-SP havia sido enviada para escoltar operários da CDHU em demolições no Moinho, com relatos de agressões contra moradores, inclusive crianças. A União, proprietária do terreno em que está a favela, repudiou o uso da força policial.
Localizada na região dos Campos Elísios, a favela do Moinho se espreme entre trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), embaixo do Viaduto Engenheiro Orlando Murgel e na divisa com o bairro do Bom Retiro. A remoção dos moradores se insere no contexto da alegada revitalização da região central pelo governador: a comunidade está a menos de um quilômetro da Praça Princesa Isabel, para onde Tarcísio pretende levar parte da sede administrativa do governo.
A gestão estadual sempre vinculou o reassentamento da comunidade também ao combate ao PCC, facção à qual a favela estaria submetida e que faria dela base para o tráfico de drogas na Cracolândia. A gestão Tarcísio diz que os moradores vivem sob risco e em condições insalubres. Além disso, ela pleiteia a cessão do terreno pela União, onde prevê construir um parque e, eventualmente, uma estação de trem.
Leia a íntegra do que diz o MP-SP
Na manhã desta segunda-feira (8 de setembro), agentes do Grupo de Atuação Especial do Combate ao Crime Organizado ( GAECO) do MPSP, da Polícia Militar e da Polícia Civil foram a campo para dar cumprimento a dez mandados de prisão preventiva e 21 mandados de busca e apreensão na Operação Sharpe, que é desdobramento da Operação Salus et Dignitas, deflagrada no dia 6 de agosto de 2024 com o objetivo de desarticular ações do crime organizado na região do centro de São Paulo denominada como “cracolândia”.
A operação teve como resultado a quase total eliminação das cenas abertas de uso de drogas na região, já que o tráfico de drogas era, segundo o levantamento feito por um ano, apenas uma das vertentes dos crimes cometidos em um ambiente transformado em um verdadeiro “ecossistema para o cometimento de ilícitos”, cujas ordens centrais partiam do Primeiro Comando da Capital – PCC no interior da comunidade conhecida como “Favela do Moinho”.
Na ocasião, nenhum dependente foi detido. Houve, entretanto, a detenção de lideranças e fechamento de inúmeros estabelecimentos (hotéis, bares, empresas de reciclagem, lojas para venda de celulares) dominados pela organização criminosa, bem como a prisão de agentes públicos envolvidos em atividade de milícia.
Na continuidade das investigações, descobriu-se que a liderança presa da “Favela do Moinho” continuava a emitir ordens criminosas de dentro do presídio, com a finalidade de intimidar funcionários do CDHU, impedindo, outrossim, que as famílias residentes aceitem indenização pelas suas moradias sob o falso pretexto de resistência da comunidade local.
Nesta segunda, as autoridades desferem novo golpe no grupo criminoso, que tentava se reorganizar por meio do tráfico de entorpecentes e que permanecia coagindo moradores e agentes públicos que trabalham na reurbanização da “Favela do Moinho”, cuja área será transformada em um parque público, assim como as famílias serão realocadas e devidamente indenizadas pelas suas moradias.
Leia a íntegra do que diz a SSP-SP
Equipes das Polícias Militar e Civil, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, deflagraram, nesta segunda-feira (8), a Operação Sharpe, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa responsável por chefiar o tráfico de drogas no centro de São Paulo. São cumpridos dez mandados de prisão preventiva e outros 21 de busca e apreensão, especialmente na região da Favela do Moinho.
Até o momento, sete envolvidos foram presos e 12 celulares foram apreendidos. Os casos estão sendo registrados na Divisão de Capturas, do Departamento de Operações Especiais (Dope). Entre os presos está a irmã de “Léo do Moinho”, integrante do PCC preso no ano passado. Ela se apresentava como líder comunitária, mas agia para cumprir as ordens e defender os interesses do irmão. Também foram detidos o homem apontado como sucessor de Léo do Moinho nas ações criminosas, e o proprietário de um estabelecimento comercial utilizado para armazenar armas e entorpecentes na comunidade.
A ação de hoje é um desdobramento da Operação Salus et Dignitas (Saúde e Dignidade), que aconteceu em 6 de agosto de 2024. Na ocasião, os agentes conseguiram desarticular o ecossistema e a logística do crime organizado em diferentes pontos da região central, que usava de hospedarias não só como pontos de distribuição e uso de drogas, mas também para lavar dinheiro.
No decorrer das investigações, foi descoberto que lideranças do tráfico continuavam dando ordens de dentro do presídio. Uma das principais exigências era que os integrantes da organização intimidassem os funcionários da CDHU e, por meio de cobranças e ameaças, famílias residentes da comunidade que aceitassem sair de lá para morar em outro lugar, com o falso pretexto de “resistência”.
Esse tipo de ação impedia que agentes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) pudessem trabalhar no reassentamento das famílias da Favela do Moinho.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Governo de SP tem promovido, desde abril, o reassentamento das famílias da Favela do Moinho, garantindo atendimento e assistência a todos os moradores. Até a última sexta-feira (5), 537 mudanças foram realizadas pela CDHU. Desse total, 65 famílias estão em unidades habitacionais definitivas e as demais recebem auxílio-moradia de R$ 1,2 mil, custeado integralmente pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo, até que sejam atendidas de forma definitiva. Esse atendimento pode ocorrer por meio de unidades prospectadas pela CDHU no mercado ou por carta de crédito individual, que permite a aquisição de imóvel novo ou usado diretamente pelo cidadão.
Para dar suporte aos moradores, a CDHU mantém em funcionamento, desde abril, um escritório instalado na Rua Barão de Limeira. O espaço foi criado para esclarecer dúvidas, orientar famílias que ainda não definiram sua moradia e facilitar o processo de atendimento.
Leia a íntegra do que diz a CDHU
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Governo de SP tem promovido, desde abril, o reassentamento das famílias da Favela do Moinho, garantindo atendimento e assistência a todos os moradores. Até esta sexta-feira (5), 537 mudanças já foram realizadas pela CDHU. Desse total, 65 famílias estão em unidades habitacionais definitivas e as demais recebem auxílio-moradia de R$ 1,2 mil, custeado integralmente pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo, até que sejam atendidas de forma definitiva. Esse atendimento pode ocorrer por meio de unidades prospectadas pela CDHU no mercado ou por carta de crédito individual, que permite a aquisição de imóvel novo ou usado diretamente pelo cidadão.
O processo de reassentamento começou em 22 de abril. Em 15 de maio, foi firmado um acordo com o Governo Federal, quando 186 famílias já haviam se mudado. Até o momento, todos os custos vêm sendo arcados pelo Estado, que mantém o compromisso assumido de garantir atendimento gratuito às famílias do Moinho. O acordo estabelecia como única condicionante o limite de renda familiar de R$ 4,7 mil. Para aquelas acima desse teto, continua disponível o financiamento previsto na política estadual de habitação.
A Secretaria aguarda a participação efetiva da Caixa Econômica Federal na operação. Até que isso ocorra, o Estado seguirá custeando integralmente as despesas, de modo a assegurar que nenhuma família seja prejudicada. Todas as moradias definitivas até o momento foram custeadas pela CDHU. O ajuste de contas será realizado tão logo o Governo Federal conclua seus trâmites burocráticos.
Para dar suporte aos moradores, a CDHU mantém em funcionamento, desde abril, um escritório instalado na Rua Barão de Limeira, a apenas 500 metros da comunidade. O espaço foi criado para esclarecer dúvidas, orientar famílias que ainda não definiram sua moradia e facilitar o processo de atendimento. Além disso, a estrutura foi disponibilizada para que a Caixa Econômica Federal instale postos de atendimento no local, devido à proximidade com a comunidade e à já reconhecida referência junto aos moradores. Até o momento, entretanto, esses postos ainda não foram ativados pela instituição federal.