A cidade de São João del-Rei ganhou um novo olhar artístico: o projeto “Diário de Sons”, que reúne oito composições instrumentais acompanhadas de vídeos que retratam paisagens inusitadas e cenários do cotidiano sanjoanense — lugares que passam despercebidos por turistas, mas que fazem parte da rotina dos moradores.
O videoarte é fruto da parceria entre um músico brasiliense e um videomaker pernambucano e está disponível no YouTube, em lançamento oficial.

Foto: print vídeo

Foto: print vídeo
O vídeo completo tem 23 minutos e mistura composições a sons captados na casa do compositor. O que cria um clima “amineirado”.
As imagens em preto e branco refletem as ladeiras da cidade, ruas com muitos fios, cenas em bares em um aspecto documental, já que nada foi posado. E, por isso, capta cenas poeticamente espontâneas, como uma mulher balançando um bebê na porta de uma igreja.
Composição musical
Todas as músicas foram criadas pelo músico Bill Davison, instrumentista voltado à música brasileira e ao choro. No trabalho, ele explora flauta, saxofone, violão, piano, guitarra, baixo, charango e sonoridades de instrumentos como mellotron, órgão e sintetizadores.
Bill nasceu em Brasília, estudou na Universidade Federal de Brasília (UnB) e realizou um intercâmbio na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), onde acabou ficando. Formou-se mestre pelo conservatório Codarts na Holanda. Em São João, integrou bandas locais, como Chora Genésio e Soul Charm, e lançou o álbum Falta Uma Parte, com Pablo Araújo. E está estreando agora seu primeiro álbum solo.

Imagens: Saulo Santiago

Imagens: Saulo Santiago
O Diário de Sons nasceu da ideia de misturar composição, criação e conectar as músicas a imagens da cidade onde o músico vivia à época. O projeto acabou crescendo e sendo aprovado na Lei de Incentivo à Cultura Paulo Gustavo e foi lançado em 27 de agosto no Centro Cultural da UFSJ e, no dia 28 de agosto, em seu canal no YouTube.
Colagens e surrealidades
A captação das imagens foi conduzida por Saulo Santiago, fotógrafo e videomaker de Pernambuco, com uma abordagem livre e intuitiva, privilegiando a dinâmica cotidiana da cidade.
“O vídeo foi pensado para ter uma perspectiva de um morador de São João, com cenas do seu percurso habitual, o que tem relação direta com o nome do projeto”, explica Saulo. “Ficou ao acaso dos encontros que iam acontecendo quando colocava a câmera na rua, não é à toa que aparecem alguns velhinhos fumantes e passarinhos”, comenta.


FOTO PRINT VÍDEO
Na edição, também de Saulo, cada faixa do Diário de Sons possui um argumento de vídeo próprio, com colagens, efeitos, ritmo e transições diferentes. Um dos exemplos mais marcantes é o da primeira faixa, que Saulo resume:
“Tudo começa com um senhor que de maneira calma se prepara para uma tempestade que vem vindo, as pessoas vão se alterando e alguém chega a perder a cabeça, e aí os pombos vão embora, a serra parece ser muito maior do que é, porém a tempestade é um delírio. O céu se abre e o rio ainda brilha no canal”.
Incentivo à criação
Esse projeto não apenas mostra o potencial criativo musical de uma cidade, mas simboliza como o apoio de editais governamentais é essencial para dar vida a iniciativas culturais. Mas o retorno não fica apenas no campo simbólico.
Vídeo foi pensado para ter uma perspectiva de um morador de São João
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que o investimento da Lei Paulo Gustavo no estado do Rio de Janeiro, que foi de R$ 139 milhões, gerou um valor seis vezes maior. Na prática, cada R$ 1 investido no estado movimentou R$ 6,52. A execução dos projetos rendeu ainda R$ 132 milhões em impostos. Ou seja, segundo o levantamento, o Estado teria arrecadado quase a mesma quantia que aplicou.
A pesquisa foi a primeira a medir os resultados da LPG, mas indica rapidez e alto retorno de investimentos na área cultural. A Lei Paulo Gustavo, financiadora deste projeto, destinou aproximadamente R$ 2,8 bilhões para o setor audiovisual no período da pandemia de Covid-19 e pós-pandemia.
Projetos como o Diário de Sons exemplificam como a música independente pode florescer e alcançar novos públicos com o suporte certo.
Para garantir acessibilidade, os vídeos contam com audiodescrição e legendas descritivas. A equipe inclui também Leonardo Avelar, responsável pela mixagem e masterização no Estúdio El Ninho.