Na tribuna do plenário, nesta terça-feira (9), deputados da oposição criticaram a fala do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) sobre a frustração em relação à negativa do Banco Central (BC) na compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB).
Em evento nos Estados Unidos, o emedebista disse à jornalistas que estava preocupado com a integridade do sistema financeiro brasileiro caso não haja uma solução para a transação. Ele avaliou que o cenário é difícil de comentar porque o BC não justificou as razões do veto da compra até então. “Só vamos poder nos aprofundar um pouco mais na resposta ou saber se vamos corrigir a operação para continuar acolhendo aquilo que o Banco Central indicar ou se a operação realmente é totalmente inviável”, pontuou.
O governador disse ainda que, se a negociação for inviável, recorrerá à outras alternativas. “Se for inviável, nós vamos parar e vamos realmente trabalhar outras oportunidades para que o Banco de Brasília possa avançar e continue crescendo”, concluiu.
A postura do governador Ibaneis repercutiu de forma negativa entre os parlamentares da oposição. “O governador do Distrito Federal, que mais uma vez não está no Distrito Federal, fez um pronunciamento nos Estados Unidos dizendo estar muito preocupado com a saúde financeira do Banco Master. Ora, ele tinha que estar preocupado com os problemas do Distrito Federal, com a saúde, com a educação. Mas na verdade ele quer apenas ajudar o seu amigo, dono do Banco Master”, afirmou o deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF).
Já o deputado Max Maciel (Psol-DF) sugeriu que a negociação pode ter sido fruto de um acordo “bem amarrado” feito pelo chefe do executivo. “Eu nunca vi um lobista tão forte a favor de um banco privado como o governador do DF. Ele deve ter feito um acordo muito bem amarrado e agora está com a faca no pescoço para cumprir o acordo que fez. Ele disse que não vai desistir de comprar um banco que está cheio de complicações. Se ele tivesse a mesma disposição para resolver o problema da saúde, não faltaria médico e enfermeiro nas unidades de saúde do DF”, destacou.
Para o distrital Fábio Felix (Psol-DF) o governador assumiu expressamente que a operação de compra tinha como objetivo atender interesses privados. “O governador cometeu um sincericídio. Ele falou simplesmente que a negativa da compra geraria transtorno para o sistema financeiro. Ora, eles disseram que a compra não era uma operação de salvamento do Banco Master, mas sim um investimento do BRB. No auge do seu sincericídio, ele falou a verdade. O motivo para a compra do Banco Master tinha a ver com interesses privados para salvar um banco falido. Queremos saber quais interesses motivaram essa operação feita pelo BRB. Está muito claro que não tem relação com interesse público”, apontou.
A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) também comentou sobre a fala do governador. Segundo ela, Ibaneis reconheceu que o Banco Master é um “banco falido”.
“Ao olhar a declaração de Ibaneis sobre o Banco Master, fico absolutamente indignada. Ali ele reconhece que o Banco Master é um banco falido, e que diz que a falência do Banco Master ou a dificuldade financeira pode ter repercussões no conjunto do sistema financeiro. Ninguém no mercado financeiro está falando sobre isso”, criticou.
A parlamentar ainda pontuou que o governo deveria estar preocupado com a saúde da população e fortalecer o BRB. “O que nos fica a dúvida é porque o Ibaneis se preocupa com o Banco Master, mais do que se preocupa com o povo do Distrito Federal, mais do que se preocupa com a instituição que é tão importante para a nossa gente que é o Banco de Brasília”, indagou.
Polêmicas na negociação
Nas últimas semanas, denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o banco Master vieram à tona. O Master é alvo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e é acusado de aplicar golpes em aposentados e pensionistas.
Além disso, o nome do banco aparece na Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal, o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal. A investigação revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro vinculado ao PCC, além de fraudes, sonegação fiscal e adulteração de combustíveis.
As acusações fortaleceram a pressão pela suspensão da compra do Master pelo BRB. A transação levantou suspeitas de crimes, conflitos de interesse e riscos de movimentação de recursos ilícitos. No dia 4 de setembro, o BC rejeitou a compra. A negociação estava em análise pela instituição desde março e era a última etapa regulatória necessária para que a operação fosse adiante. O Banco Central ainda não se posicionou publicamente sobre a decisão.
